Estudo da Fiocruz aponta a automedicação como causa preocupante de dependência.
O problema das drogas ilícitas no Brasil é bastante debatido, em diversas esferas. Além delas, a dependência de outras substâncias lícitas, a exemplo de cigarros e álcool também ganha um fórum de discussão quase permanente. No Dia Nacional de Combate às Drogas, a psiquiatra Alessandra Diehl chama a atenção ao problema real do consumo de medicamentos sem prescrição ou de forma diferente da prescrita por médicos.
Um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz, conduzido em 2015, entrevistou cerca de 17 mil pessoas com idades entre 12 e 65 anos, em todo o Brasil, com o objetivo de estimar e avaliar os parâmetros epidemiológicos do uso de drogas. O estudo foi feito seguindo parâmetros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possibilitando traçar padrões em termos nacionais.
Entre os medicamentos que são apontados como de uso recorrente sem orientação médica, duas substâncias que podem causar dependência são apontadas em níveis preocupantes. Os benzodiazepínicos e os opiáceos. O 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas, divulgado em agosto do ano passado, é o levantamento nacional mais recente sobre drogas realizados em território nacional.
Analgésicos e Tranquilizantes
O uso de analgésicos opiáceos e tranquilizantes benzodiazepínicos apontado nas entrevistas acende um alerta para acompanhamento de uma possível tendência no Brasil. Nos 30 dias anteriores à pesquisa eles foram consumidos de forma não prescrita, ou diferente da prescrição médica, por 0,6% e 0,4% da população brasileira, respectivamente.
O uso de remédios ‘sem receita’ faz parte da cultura brasileira e representa um risco, apontado pela psiquiatra Alessandra Diehl. “A busca de um alívio imediato pode retardar um adequado diagnóstico e tratamento. Vivemos em uma sociedade que tem pressa e não parece suportar qualquer dor e frustração.”, diz Alessandra.
Outro estudo, encomendado ao Instituto DataFolha pelo Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CFF), endossa a tendência. Ele aponta que tomar remédio por conta própria é um hábito comum de 77% dos brasileiros. Quase metade (47%) afirmou se medicar sem prescrição médica pelo menos 1 vez por mês e destes, um quarto relata se automedicar uma ou mais vezes por semana.
Reter possíveis ‘sobras’ de comprimidos para uso posterior é uma atitude perigosa e bastante comum. Alguns remédios de uso controlado, exigem receita e documento para compra em farmácias, porém o excedente das embalagens que são usados posteriormente pelas pessoas sem conhecimento médico não é contabilizado. Não são todos os medicamentos consumidos de forma ‘autônoma’ que causam dependência, mas, sendo fármacos, é recomendável que o hábito não prevaleça.