Teatro de Hilda Hilst será mostrado em Leituras Dramáticas Online

Hilda Hilst sentada com um cigarro na mão, foto em preto e branco, feita em 1997. Ela veste uma camisera com os dizeres "Eu amo Vira lata" e uma blusa aberta por cima.
Hilda Hilst, 1997. foto: Eder Chiodetto

Série de oito encontros ao vivo havia sido prevista para 2020, ano em que a autora completaria 90 anos, mas foi adida em função da pandemia e adaptada ao formato virtual.
 

Hilda Hilst é considerada até hoje uma das mais importantes escritoras da língua portuguesa, com mais de 40 livros publicados, em diferentes estilos. Foi a autora homenageada da Flip 2018 e teve obra foi traduzida em vários idiomas. Para comemorar os 90 anos de seu nascimento, foi organizado um ciclo de leituras. O projeto 8x Hilda reúne as oito peças escritas pela autora entre os anos de 1967 e 1969. As leituras dramáticas serão transmitidas ao vivo, pelo YouTube nos próximos oito domingos (de 07.02 a 28.03), sempre às 18h.

A curadoria do projeto é do produtor Fábio Hilst, que conta com a participação de quatro atores se revezando na direção das leituras. Participam Lavínia PannunzioJoca AndreazzaFlávia Couto e Kiko Rieser. A cada semana outros atores são convidados para viverem os personagens, de acordo com o texto apresentado. Todas as lives serão gravadas, para serem disponibilizadas com tradução em Libras às quartas, às 20 horas. O projeto idealizado por Fábio seria realizado em 2020, quando a autora completaria 90 anos, porém foi adiado em função da quarentena imposta pela pandemia.

A obra teatral de Hilda Hilst foi produzida nos primeiros anos da ditadura militar, quando a censura era severa e ainda não completamente decifrada. Os textos traduzem a atmosfera claustrofóbica de opressão e os questionamentos ao sistema. Os personagens aparecem em situações limite, presos em celas, porões e mesmo colégios religiosos, estruturas que escravizavam e alienavam, segundo a autora. Ela os apresenta além do aspecto exterior, despidos de máscaras ou armaduras, mostrando seus sentimentos e almas.

Programação 8x Hilda 
Domingos, ao vivo, às 20h.
Classificação 14anos
Duração: 120 min
Youtube: /CuradoriaHilst

Reexibição com tradução em Libras: 10.02 a 31.03, quartas, às 20h

07.02 - A Empresa (A Possessa)
14.02 - O Rato no Muro
21.02 - O Visitante
28.02 - Auto da Barca de Camiri 
07.03 - As Aves da Noite 
14.03 - O Novo Sistema 
21.03 - O Verdugo 
28.03 - A Morte do Patriarca

Sinopses, em Hilda Hilst – Teatro Completo (L&PM / Leusa Araujo)

7 de fevereiro: A Empresa (A Possessa)A Empresa (inicialmente, A Possessa) foi o texto de estreia de Hilda Hilst na dramaturgia, em 1967. Trata-se de uma crítica ao trabalho alienado, com o qual se busca mais a eficiência que a criatividade. América é uma adolescente questionadora que se rebela contra a tradição representada pelo colégio religioso e terá de prestar contas ao Monsenhor e ao Superintendente. Esse inconformismo é medido por certos “robôs eletrônicos” (personagens Eta e Dzeta) criados pela própria América que, depois, são utilizados pela instituição para conter as “asas do espírito” e a imaginação. Ou seja, os dirigentes do colégio/empresa impõem às Postulantes e a América um trabalho alienante, o que desencadeia a morte da protagonista. 7 personagens. Direção: Flávia Couto.

14 de fevereiro: O Rato no Muro – O ambiente do colégio religioso, recorrente na obra da autora, aparece em O Rato no Muro (1967) ainda mais estreito. Tudo se passa numa capela, onde a Superiora está cercada por nove irmãs, identificadas por letras de A a I. Estão ajoelhadas, e ao lado de cada uma delas, o “chicote de três cordas”. Cada uma das religiosas expressa visões diferentes, a partir de pequenos abalos ao austero cotidiano do claustro. Irmã H (alter ego da autora) é a mais questionadora e lúcida. Tenta em vão mostrar às outras a necessidade de libertação, representada pelo desejo de ser o rato, único capaz de ultrapassar os limites do muro da opressão e do pensamento único. 10 personagens. Direção: Kiko Rieser.

21 de fevereiro: O Visitante – Peça mais poética de Hilda Hilst, O Visitante (1968) gira em torno do conflito entre Ana e Maria – mãe e filha. Ana, encantadora e meiga, descobre-se grávida. Mas a filha, estéril e parecendo mais velha, levanta suspeitas sobre a paternidade, já que seu marido, genro de Ana, é o único homem da casa. A chegada de um visitante, o Corcunda, provoca uma distensão sem, no entanto, apagar o conflito que, de um lado tem o apelo da vida, do sexo e do amor e, do outro, a aspereza de um mundo sem prazer. 4 personagens. Direção: Lavínia Pannunzio.

28 de fevereiro: Auto da Barca de Camiri – Baseado em fatos reais, Auto da Barca de Camiri é a quarta peça de Hilda Hilst, escrita em 1968. Em julgamento encontra-se o revolucionário argentino Ernesto Che Guevara, morto em Camiri, na Bolívia – ainda que seu nome não seja mencionado e que sua figura, na peça, seja confundida com a de Cristo. Sob a tensão permanente dos ruídos de metralhadora soando do lado de fora e com o desconforto do cheiro dos populares que desagradam os julgadores, Hilda introduz elementos grotescos e inovadores. A severidade da Lei é representada pelos juízes (vistos de ceroulas antes de vestirem as togas com abundantes rendas nos decotes e mangas). Há também o Prelado e o Agente. A condenação está decidida, a despeito do depoimento do Trapezista e do Passarinheiro que, assim como os demais humildes, serão executados pelas metralhadoras. 7 personagens. Direção: Joca Andreazza.

7 de março: As Aves da Noite – Escrita em 1968, As Aves da Noiteé baseada na história real do padre franciscano Maximilian Kolbe, morto em 1941, no campo nazista de Auschwitz. Ele se apresentou voluntariamente para ocupar o lugar de um judeu pai de família sorteado para morrer no chamado “porão da fome” em represália à fuga de um prisioneiro. No porão da fome, a autora coloca em conflito os prisioneiros – o padre, o carcereiro, o poeta, o estudante, o joalheiro –, visitados pelo comandante da SS, pela mulher que limpa os fornos e por Hans, o ajudante da SS. O processo de beatificação do padre Maximilian Kolbe, iniciado em 1968, resulta na canonização em 1982, pelo papa João Paulo II. Hoje São Maximiliano é considerado padroeiro dos jornalistas e radialistas e protetor da liberdade de expressão. 7 personagens. Direção: Kiko Rieser.

14 de março: O Novo SistemaO Novo Sistema, escrita em 1968, volta ao tema da privação da liberdade e da criatividade por regimes totalitários. O personagem central, o Menino prodígio em física, não se conformará com a execução dos dissidentes em praça pública nem com a opressão – desta vez exercida pela ciência – à evolução espiritual do indivíduo. Assim como em A Empresa, é evidente a afinidade com a literatura distópica de George Orwell e Aldous Huxley. 12 personagens. Direção: Joca Andreazza.

21 de março: O VerdugoO Verdugo foi escrito em 1969 e, no mesmo ano, recebeu o prêmio Anchieta. Conta a história do carrasco que se recusa a matar o Homem, um agitador inocente, condenado pelos Juízes e amado por seu povo. Temendo reações contrárias, os Juízes tentam – em vão – subornar o verdugo para que este realize a tarefa o mais rápido possível. Apenas o jovem filho entende a recusa do pai. A mulher, ao contrário, aceita a oferta em dinheiro e toma o lugar do marido ao pé do patíbulo, com a concordância da filha e do genro. No final, o verdugo reaparece, desmascara a mulher e conta ao povo o que se passara após sua decisão. O povo reage violentamente matando a pauladas o carrasco e o Homem. O filho sobrevive e foge com os Homens-coiotes, símbolos de resistência. 10 personagens. Direção: Flávia Couto.

28 de março: A Morte do Patriarca – Em A Morte do Patriarca (1969) podemos reconhecer o humor ácido e o tom de escárnio de Hilda. Um Demônio com “rabo elegante” e de modos finos discute os dogmas da religião e o destino humano com Anjos, o Cardeal e o Monsenhor, ante a visão dos bustos de Marx, Mao, Lenin e Ulisses, de uma enorme estátua de Cristo e da tentativa do Monsenhor de colocar asas na escultura de um pássaro. O Demônio seduzirá o Cardeal a tomar o lugar do Papa; posteriormente, o próprio Papa é morto pelo povo. 9 personagens. Direção: Lavínia Pannunzio.

FICHA TÉCNICA:
Textos: Hilda Hilst.
Idealização e curadoria: Fábio Hilst. 
Direção: Lavínia Pannunzio, Joca Andreazza, Flávia Couto e Kiko Rieser. 
Produção: Três no Tapa Produções Artísticas. 
Assistência de produção: Fernanda Lorenzoni. 
Técnico de transmissão: Gustavo Bricks e Henrique Fonseca. 
Design / gerenciamento de mídia: Ton Prado. 

Realização: ProAC Expresso LAB, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.