Artigo: Um debate sobre a valorização dos educadores

imagem das mãos de uma pessoa, aparentemente um homem adulto, escrevendo à caneta em algumas folhas, são vists as mãos e parte dos braços com camisa de mangalonga azul clara. a mão direira escreve com a caneta e a esquerda está apoiada segurando os papéis.
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Por Fabiola Overrath e Lara Andréa Crivelaro 

Nesse momento de tantas instabilidades e fragilidades que fomos expostos em decorrência da pandemia da Covid-19, mais do que nunca a educação deve ser a palavra de ordem de todos os governos mundiais. Não se faz educação sem professores e a valorização dos educadores é o primeiro passo para garantirmos uma educação de qualidade no Brasil.

A atuação dos professores tem impacto dentro e fora da Escola, seja no desempenho dos estudantes, na qualidade da educação e no progresso do país. Quando falamos da importância da valorização dos profissionais da educação, diversos fatores devem ser considerados nesse debate, tais como: remuneração adequada; desenvolvimento do plano de carreira docente; garantia de condições adequadas de trabalho; reconhecimento social da profissão, entre outros.

Segundo o relatório Global Teacher Status 2018, elaborado pela Varkey Foundation, o prestígio da profissão no Brasil tem o pior índice entre 35 países avaliados. A escala de avaliação vai de 1 (nota mais baixa) a 100 (mais alta) e o Brasil teve a nota mínima. A primeira colocada foi a China, que recebeu a pontuação máxima, seguida por Malásia, com 93,3, e Taiwan, que alcançou 70,2.

Outra conclusão do relatório da Varkey Foundation é que o prestígio do professor não está relacionado apenas à remuneração média. Esse conceito também envolve a atratividade da carreira para os jovens, o respeito pelos profissionais, as condições de trabalho e a valorização da profissão em políticas públicas.

O Índice Global de Status do Professor (IGSP), mostrou pela primeira vez que há uma ligação direta entre o reconhecimento social do professor e o desempenho do aluno medido pelas pontuações do PISA . Os países com o reconhecimento maior dos professores registraram pontuações mais altas no PISA. Esta descoberta mostrou que não é apenas bom reconhecer socialmente os professores, mas que aumentar a valorização desse status levará os estudantes a melhores resultados.

O rendimento médio bruto mensal dos profissionais do magistério no Brasil é de 74,8% do total que os demais profissionais assalariados recebem (com o mesmo nível de escolaridade), de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua em 2019, do IBGE. Segundo levantamento de 2019, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, 8 estados brasileiros não haviam cumprido ainda a remuneração mínima prevista na Lei do Piso.

No Brasil, a falta de valorização do professor faz com que estudantes com bom desempenho optem por carreiras mais prestigiadas e com melhores salários. Isso gera um ciclo vicioso de desmotivação dos profissionais da educação, que também não recomendam a profissão aos mais jovens. De 1980 para cá, conseguimos garantir a universalização do acesso ao Ensino Fundamental. Contudo, isso não necessariamente resultou na garantia de aprendizagem para todos os estudantes. Ao contrário, criou toda uma geração de estudantes que acessaram a educação pública, concluíram o Ensino Fundamental, mas não aprenderem o que lhes é de direito.

Nesse cenário, coube ao professor lidar com as consequências cotidianas da forma como a expansão dos sistemas de ensino foi feita. Acreditamos que os professores têm papel importante, embora não exclusivo, para evitar a produção de mais casos de fracasso escolar. O professor não controla todos os fatores de aprendizagem, em especial os fatores extraclasses, que são, muitas vezes, preponderantes. No entanto, uma pesquisa lançada em 2021 aponta que ainda é muito forte a crença dos professores de que a reprovação é um mecanismo para restaurar a justiça meritocrática em sala de aula ou até um instrumento disciplinar.

Nesse sentido, a Base Nacional Comum Curricular, que foi aprovada em 2017 e está sendo implementada por estados e municípios, pode ser uma oportunidade para redes de ensino e professores repensarem estratégias de ensino e aprendizagem, com vistas a garantir os mesmos aprendizados a todos os estudantes, independentemente dos contextos extraclasse. É claro que esse terá que ser um trabalho coletivo de toda a equipe pedagógica e que as condições de trabalho precisam ser asseguradas. A participação e o envolvimento dos professores na elaboração de políticas públicas para a educação devem ser considerados e incentivados pelo Estado e pela sociedade civil.

Nesse momento pós-pandemia, o professor tem um desafio muito grande. É preciso garantir que aqueles estudantes que já estão em situação de distorção idade-série tenham condições de aprender aquilo a que têm direito e que não abandonem ou evadam da escola. Recuperar todos os estudantes que ficaram para trás, na chamada Busca Ativa, é fundamental nesse momento. Tanto governos, quanto Escolas e professores devem ter esse propósito como missão para evitar índices negativos ainda maiores em relação à educação no Brasil. Mais uma vez o papel do professor nesse processo é fundamental e deve ser apoiado e valorizado.

A criação de classes de aceleração no contraturno escolar, mantendo o estudante junto de sua turma de origem, ao mesmo tempo em que é garantida atenção especial para recuperar sua aprendizagem é importante e nesse sentido o professor precisa ser apoiado e orientado em relação a sua formação para educação híbrida e o uso de tecnologias. Conhecimentos que não estavam em sua formação original, com certeza.

A reformulação das estruturas curriculares dos cursos de formação de professores, bem como a criação de uma Prova Nacional a ser feita pelos alunos concluintes dos cursos de Pedagogia e Licenciaturas são propostas que devem avançar e que buscam valorizar a carreira do professor.

É preciso garantir um bom processo de formação continuada de todos os professores, pois, pesquisas indicam um ‘apagão’ de profissionais da educação no país nos próximos anos, que diz respeito à atratividade para a carreira. Quais as consequências e os impactos que podem acarretar para um país inteiro se de fato isso acontecer? O que pode ser feito para evitar essa tragédia?

Em um cenário educacional ideal, o professor é valorizado pela escola, pelo governo e pela sociedade devido à importância do seu papel na construção de um país melhor. Para isso, deve receber todo o suporte necessário para realizar seu trabalho, inclusive a utilização da tecnologia para facilitar sua rotina dentro e fora de sala de aula.

Em suma, é preciso ter uma visão sistêmica, para construção de novas possibilidades de intervenção que permitam valorizar e alterar de maneira mais sustentável o horizonte de atuação dos professores no Brasil. A profissão que forma todas as profissões necessita do nosso apoio e a construção de um país melhor depende muito disso.

Sobre as autoras: Fabiola Overrath é cofundadora e Diretora de Operações e Pessoas do Educbank e a Profa. Dra. Lara Andréa Crivelaro é Doutora em Sociologia, cofundadora e Diretora Acadêmica do Educbank, além de ser Diretora de Educação Internacional da ANEBHI e Fundadora da Efígie Educação Internacional. O Educbank é a primeira fintech para educação básica da América Latina.
Fontes: 
Global Teacher Status 2018 - globaleducationseries.org/Global Teacher Status 2018
Blog do Urânia - horario.com.br/blog/Quatro mudancas que ocorreram na educacao em 2019

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