No Dia Nacional da Doação de Órgãos além da curiosidade sobre a classificação de sangue e dentes, uma notícia interessante: é possível doar dentes!
É possível, sem realizar uma pesquisa aprofundada, indicar que poucas pessoas sabem que o sangue é considerado um tipo de tecido e ainda que dente é órgão! Dentro da máxima que órgãos duplos (ou, neste caso, “multiplos”) podem ser doados, os dentes podem sim, ser doados. A sua utilização, no entanto, não é apenas o direcionamento para transplante! Eles são bastante úteis para pesquisas científicas e também para a sala de aula na universidade.
Seja o dente de leite que caiu ou um permanente extraído, eles são objeto de desejo dos cursos universitários e de pós-graduação em Odontologia. A Cirurgiã-Dentista e especialista em Implantodontia Dra. Claudia Pires Miguel lembra que no século passado os docentes peregrinavam por cemitérios para captar elementos dentários para estudos. Hoje a legislação e a regulação das faculdades de Odontologia proibem essa ‘captação’, bem como a compra deste material.
O caminho para quem quer doar é encaminhar esse dente aos biobancos ou bancos de dentes. A Faculdade de Ondontologia da USP, por exemplo, tem seu banco de dentes e uma campanha do Endereço da Fada do Dente, sugerindo opções de destino diferentes do “embaixo do travesseiro”! A campanha conta aos pequenos a importância da doação e estimula um novo comportamento, além de criar uma cultura de doação de órgãos desde cedo nas crianças.
Ainda que seja possível um intervalo grande entre a queda (ou retirada) do dente e sua doação, ela precisa ser feita com cuidados. Quem soube agora que a doação é útil e já pensou em ir ao armário resgatar uma caixinha com seus dentes, pode mudar de ideia. O dente para ser doado deve ser mantido em um frasco limpo, com água limpa, água destilada ou soro fisiológico, trocado a cada semana até a doação.
Os Centros de Processamento Celular (CPC) podem ser públicos ou privados e processam e armazenam células humanas para utilização futura. Já os biobancos são exclusivamente sem fins lucrativos e em geral estão ligados a uma instituição de ensino ou de pesquisa. O dente é orgão e por este motivo precisa ser tratado como células vivas! Para sua reutilização, ele deve ter sido coletado sem contaminantes (sem cáries ou tártaro).
Em todos os casos de doação de material biológico, o que inclui os dentes, é preciso a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Também existe um segundo termo, de Assentimento (TA), relacionado diretamente à permitação para uso de seu dentre em pesquisa e/ou para fins didáticos. Para as crianças, estes termos são uma boa forma de conscientizá-las sobre a importância da ciência e da pesquisa científica.
Pesquisa sobre células-tronco são um novo campo de atuação para o Cirurgião-Dentista, que pode atuar como protagonista na coleta e aplicação de material biológico processado para uso em medicina regenerativa. A Dra. Claudia Pires Miguel comenta que as células-tronco não induzem resposta imune, ou seja, não levam à rejeição. “São células que tem o potencial de recompor tecidos danificados e, assim, auxiliar no tratamento de doenças degenerativas e autoimunes, assim como as doenças cardíacas”.
Saiba mais sobre o Banco de Dentre da Faculdade de Odontologia da USP (neste link).
Fontes: Regulatório – Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, Decreto nº 2.268, de 30 de junho de 1997, Código Civil Brasileiro. Lei nº 10406, de 10 de janeiro de 2002, Lei nº 10.211, de 23 de março de 2001, altera dispositivos da Lei nº 9.434. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. RDC/Anvisa - 508/2021.