Na capital paulista São Paulo vivem e podem ser vistas quase 500 espécies de aves, além de insetos, anfíbios, mamíferos e outros.
Apesar da fama de selva de pedras e de ser apontada por muitas pessoas como uma cidade sem verde, a realidade é comprovadamente outra. O Inventário da Fauna Silvestre do Município de São Paulo, publicado pela Prefeitura em 2021, mapeou 799 animais vertebrados e 507 invertebrados em nossa cidade. A zoóloga e pesquisadora do Instituto Butantan Erika Hingst-Zaher conta um pouco sobre algumas das principais espécies de animais silvestres da capital, em um podcast produzido pelo Conselho Regional de Biologia (CRBio-01).
O levantamento feito pela prefeitura sobre a fauna presente na cidade, aponta que entre as 1.306 espécies de animais silvestres, predominam as aves, com 497 espécies, e em seguida os insetos que são 426 diferentes. Bem atrás está o terceiro lugar: são 108 espécies de mamíferos. Há ainda anfíbios (90), peixes (52), répteis (52), moluscos (43), aranhas (33), lacraias (3) e até crustáceos (2). Alguns deles estão em toda a cidade e outros se concentram em regiões específicas.
A Dra. Erika Hingst-Zaher comenta no podcast a coexistência das muitas espécies de animais silvestres com os paulistanos. Ela pontua a importância disso, como forma de reconexão dos habitantes da maior cidade da América do Sul com a natureza. Outro ponto que é importante de ser ressaltado nessa proximidade é sobre riscos que ela pode trazer tanto para humanos, como para os animais domésticos e silvestres, além dos cuidados para evitá-los e para garantir o equilíbrio da natureza.
“As aves são particularmente importantes, porque são mais fáceis de se ver nas cidades do que, por exemplo, os mamíferos. Elas proporcionam serviços ambientais, como a polinização e a dispersão de sementes. Mas o aspecto utilitário deveria empalidecer diante da questão da beleza. Há uma relação direta entre bem-estar humano e natureza“, comenta a pesquisadora do Butatan. Esta presença das aves na capital está em praticamente em todas regiões, com concentração, claro, nos parques parques.
A cidade tem, segundo a prefeitura, cerca de 650 mil árvores em suas ruas. Nelas, há muitos ninhos e o abrigo de várias espécies. Uma das mais vistas é o sabiá-laranjeira, que além de muito bonito tem um canto bastante apreciado. Há alguns anos, vem se percebendo que essas aves cantam cada vez mais cedo, e hoje ainda antes do sol nascer. Segundo Erika, esse canto que acontece entre outros motivos para encontrar parceiros para reprodução passou a acontecer na madrugada para ser escutado, sem interferência dos sons urbanos de veículos, obras e etc.
Quem tem vontade de se conectar mais com a natureza e conhecer novas espécies, a pesquisadora do Butantan indica a plataforma Wikiaves, na internet. É um site colaborativo, como a Wikipedia, em que os colaboradores estão sempre atentos e debatem, inclusive, características que ajudam a identificar espécie, gênero e mesmo idade dos pássaros. “Na minha experiência, uma vez que as pessoas percebem os outros seres vivos que as rodeiam, começam também a se preocupar com a preservação da natureza em diversas escalas”, comemora Erika Hingst-Zaher.
Entre os mamíferos, uma das espécies nativas mais comuns em São Paulo é o gambá-de-orelha-preta, marsupial com focinho pontudo que pode ser visto no chão, árvores e cabos de fios elétricos. Gambás se alimentam de frutos e animais invertebrados e pequenos vertebrados, além de restos de comida que encontram no lixo. Outro mamífero frequentemente visto é um sagui ‘srd’, cruzamento do sagui-de-tufo-branco, originário do Nordeste, e o sagui-de-tufo-preto, do Cerrado. Eles chegaram à cidade por meio do tráfico de animais silvestres.
Nas áreas de vegetação mais abundante e nem tanta movimentação de humanos, como o Jardim Botânico e o Horto Florestal, e mesmo no Zoológico de São Paulo, também são vistos primatas de porte maior, como os macacos-pregos e os bugios. Entre os répteis, os teiús e algumas cobras como a jararaquinha – que não é venenosa, apesar do nome – são bastante comuns em São Paulo. Os morcegos também bastante vistos voando entre as árvores da cidade cumprem uma função extremamente importante na polinização de plantas e dispersão de suas sementes e no controle de insetos.
Cuidados para uma aproximação harmônica e segura
É sempre importante lembrar que não se deve tocar ou alimentar e interagir com nenhum animal silvestre. Existe o risco de machucar os animais, que por outros lado também ser machucado! As imunidade de humanos e animais a doenças também distinta, por isso, o contato pode ser perigoso para a saúde neste sentido. Um exemplo é a “doença do carrapato”, a febre maculosa que pode ser fatal para humanos. Os carrapatos, na cidade, podem chegar às pessoas na carona de grandes roedores que habitam pastagens próximas a rios e lagos.
Os animais de estimação, principalmente os gatos, representam um risco para certas espécies da fauna urbana silvestre. “Num ambiente tão difícil de se sobreviver como o urbano, a predação tem impacto grande. O hábito de alimentar gatos que vivem livres em áreas públicas, ou mesmo de deixar seu gato solto fora de casa, representa um risco enorme para as aves e ratinhos silvestres”, alerta a Bióloga. Os cachorros domésticos, por outro lado, são uma grande ameaça, principalmente para os gambás.
Escute aqui o Podcast produzido pelo CRBio-01 para a revista O Biólogo:
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