Artigo: Esporte como mídia para temas sociais

imagem das mãos de uma pessoa, aparentemente um homem adulto, escrevendo à caneta em algumas folhas, são vists as mãos e parte dos braços com camisa de mangalonga azul clara. a mão direira escreve com a caneta e a esquerda está apoiada segurando os papéis.
imagem free-photos/pixabay
por Clóvis Teixeira Filho

A Copa do Mundo de Futebol é um dos maiores eventos esportivos, movimentando bilhões em faturamento e audiência. Na edição de 2022, o que tem sobressaído, no entanto, é a discussão em torno do tratamento dado aos trabalhadores imigrantes e à comunidade LGBTQIA+. Embates que ressoam sobre futuros negócios para o país-sede, mas também do esporte como mídia para temas sociais, a partir de uma moral universal.

O esporte está atado ao conceito de mídia, sobretudo o futebol, no Brasil e em países com tradição no jogo. Isto porque tem seguido uma lógica midiática no seu desenvolvimento, que não é apenas do uso da tecnologia como VAR, scout ou transmissões. Vai adiante, ao ser pensado como espetáculo, meio de propagação de mensagens atreladas à cultura, assim como seu formato de financiamento e os sentidos que ocupa nas comunidades.

O futebol, o esporte como mídia abarca a transformação dos estádios em arenas, dos times em grandes marcas influenciadoras, da interação entre jogadores e técnicos com torcedores. Ou seja, ultrapassa o jogo como socialidade ou área independente, para estar atrelado ao desenvolvimento midiático. Assim, pode ser pensado como espaço de produção de sentido cultural na sociedade – mídia, por essência –, o que inclui a propagação de temas sociais.

Na pesquisa “Futebol midiatizado, identidade cultural e reconhecimento nos fluxos comunicativos digitais”, publicada na Revista Contracampo, da Universidade Federal Fluminense, os temas racismo, machismo e homofobia foram respectivamente os mais discutidos no Twitter ao envolver o futebol brasileiro. As interações na rede abrangem, em sua maioria, degradação dos interlocutores e a retomada de episódios em campo como exemplo para discutir os temas. Os resultados ainda mostram que os perfis dos usuários envolvem tanto organizações quanto pessoas físicas e que as ações ultrapassam o ambiente digital.       

Nesta Copa, o esporte como mídia pode ser visto no ato de se ajoelhar em campo ou colocar a mão na boca e nas manifestações de técnicos, jogadores e autoridades públicas, sejam elas favoráveis ou não aos temas sensíveis para a qualidade de vida de alguma comunidade. As marcas também assumiram esse papel, como a Pantone, propondo uma bandeira do orgulho apenas com a referência numérica das cores do arco-íris e fundo branco, assim como os patrocinadores sofreram ataques de grupos ativistas. Em contrapartida, as manifestações da FIFA reforçam a dinâmica de lutas, de negociações existentes nessa discussão.

A mesma dinâmica tem sido utilizada pela publicidade de causa, envolvendo marcas no auxílio de demandas públicas, em conjunto com organizações da sociedade civil. Contexto que reflete a baixa confiança em governos e nas instituições tradicionais para resolver problemas sociais, como já antecipa a pesquisa Barômetro de Confiança (Trust Barometer) da Edelman. Essa visibilidade midiática, paralela às receitas financeiras, é igualmente esperada no esporte, em que as redes digitais ampliam a abrangência das mensagens e seu rápido espalhamento em busca de esperança para a mudança de cenários.

Esta é a grande potencialidade da mídia: expor, trazer à tona, tirar do não dito, revelar, publicizar e propagar. Contudo, o que se faz com essa visibilidade é o que mais importa. Isto é, como as mensagens simbólicas de jogadores, marcas e outras organizações podem ser utilizadas para discutir e mudar cenários, serem apropriadas pelas comunidades. Essa será cada vez mais uma competência central para as pessoas que atuam em pautas sociais, em um contexto com intensa vigilância de cidadãos e consumidores, que podem pressionar o poder público.   

Sobre o autor: Clóvis Teixeira Filho é doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e coordenador de pós-graduação na área de Comunicação do Centro Universitário Internacional Uninter.

A sessão de artigos é publicada às segundas-feiras, com textos de colunistas convidados. Seu conteudo é de total responsabilidade dos autores e pode não refletir o posicionamento do site. Encontre mais artigos publicados neste link.

4 comentários a "Artigo: Esporte como mídia para temas sociais"

  1. Good insight!

  2. Dont forget about Jasper
    From
    ~ Emilie Sealey

  3. Well-written book reviews are essential for building an audience for a book blog.

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