Acolhida de refugiados no pós-guerra é tema da campanha “Obrigado, Paulistanos”, parte das comemorações do aniversário da capital, a dois dias da data que celebra internacionalmente a memória do holocausto
Uma das homenagens que a capital paulista recebe em seus 469 anos de fundação vem de um grupo de sobreviventes do horror da guerra, representando centenas deles, que foram acolhidos na cidade. A campanha “Obrigado, Paulistanos” destaca a importância de São Paulo naquele momento histórico e pode ser vista em duas frentes. São vídeos veiculados nos intervalos da programação da TV e nas redes socias, e uma emocionante exposição de fotografias que será aberta no Shopping Vila Olímpia. Mundialmente, para não deixar essa triste passagem cair no esquecimento, em 27 de janeiro é celebrado o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
Nos anos que seguiram o final da Segunda Guerra Mundial, entre 300 e 500 sobreviventes do Holocausto encontraram refúgio na cidade de São Paulo. Eram em judeus de diversas nacionalidades, entre alemães, húngaros, poloneses, romenos e outros, que escaparam com vida da Europa, ainda que sem dinheiro e, muitos, sozinhos. Aqui eles foram recebidos com carinho e respeito e puderam trabalhar, reconstruir suas vidas e criar suas próprias famílias.
Quatro sobreviventes do holocausto, Ala Szerman, George Legmann, Joshua Strul e Marika Gidali são os protagonistas da campanha “Obrigado, Paulistanos” que fala em nome de todos. São cinco filmes de 30 segundos, que poderão ser vistos nos intervalos de programação da TV, assim como nas redes sociais e em relógios digitais nas ruas da capital paulista. Será inaugurada também, na próxima segunda, dia 23, uma exposição de fotos artísticas dos sobreviventes, feitas pelo fotógrafo Luiz Rampazzo, no shopping Vila Olímpia.
As histórias de cada um destes sobreviventes, assim como dos milhares pelo mundo, são especiais e precisam ser lembradas. George Legmann, por exemplo, era um dos poucos bebês sobreviventes. Ele nasceu em um campo de concentração, no final da guerra, graças a sua mãe ter conseguido esconder a gravidez. Joshua Strul foi levado a um campo de concentração aos 12 anos de idade apenas por ser judeu, tendo quase morrido de frio, fome e sede. As duas senhoras que completam o grupo da campanha são mais conhecidas do público e também tem histórias fortes.
Ala Szerman era apenas um bebê quando sua família fugiu dos nazistas para o interior da Rússia. Depois de quase morrer de frio na Sibéria, conseguiu vir para São Paulo em 1957. Ela foi a pioneira em levar aulas de ginástica para a televisão, além de ter aberto a primeira academia no Brasil e trazido o conceito de Spa. Já a húngara Marika Gidali era criança quando começou a guerra e se escondia em ruínas e porões em Budapeste. Com a família chegou a passar fome e sede e chegou ao Brasil ainda com 10 anos de idade, em 47. No Brasil ela se tornou bailarina e ao lado do marido e também bailarino Décio Otero, fundou o Ballet Stagium, uma das principais companhias e academias de dança brasileiras.
“Esses sobreviventes se consideram antes de mais nada brasileiros e paulistanos. E por terem ganhado essa segunda chance na vida, gostariam de agradecer genuinamente pelas oportunidades que tiveram em solo paulista. Eles ficaram muito felizes com a oportunidade de dizer ‘Obrigado, Paulistanos‘ à cidade que os acolheu”, afirma Marcio Pitliuk, curador do Memorial do Holocausto de São Paulo, membro do Conselho Acadêmico da StandWithUS Brasil e o organizador da iniciativa.
Para André Lajst, cientista político e presidente executivo da StandWithUs Brasil, o projeto é importante pois “preserva a memória não só de cada um desses sobreviventes, mas também nos lembra o que foi o Holocausto, o que é fundamental para que não deixemos que algo semelhante se repita, e para que possamos identificar e reagir prontamente a qualquer sinal de antissemitismo. É por isso também que o papel de instituições como a StandWithUs, o Memorial do Holocausto e a FISESP é essencial para manter a memória viva”.
Marcos Knobel, presidente da FISESP, também enfatiza como a campanha é oportuna e necessária. “Duas datas importantes, com sentimentos opostos, mas interligadas por um destino. O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto contrasta com uma data festiva que é o aniversário da nossa querida cidade. O nosso respeito máximo a todas as vítimas do holocausto e agradecimento a São Paulo por abraçar de forma tão calorosa a nossa comunidade para que pudéssemos recomeçar as nossas vidas”, aponta.
Campanha Obrigado, Paulistanos Peças publicitárias e exposição fotográfica. Iniciativa do Memorial do Holocausto de São Paulo, da StandWithUs Brasil e da Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP). Exposição "Obrigado Paulistanos" De 23 a 30 de janeiro Shopping Vila Olímpia, piso Térreo Rua Olimpíadas, 360 - Vila Olímpia Exposição Gratuita.
Acompanhe pelos sites, as ações do Memorial do Holocausto de São Paulo (memorialdoholocausto.org.br), da StandWithUs Brasil (standwithus.com/brazil) e da Federação Iraelita do ESP (fisesp.org.br)