Pesquisadoras estudam a Fisiologia das Emoções no Futebol

Excited, happy big family team watch sport match together on the couch at home
Imagem de master1305 no Freepik

Estudo inédito que analisa o aspecto biológico das emoções de torcedores fanáticos em dias de jogos e foi tema da tese de doutorado, vira livro que será lançado neste sábado (11)

Todos sabem que a emoção de uma partida de futebol é grande. Já virou música, já virou piada e também, é muito usada para justificar uma ou outra aspereza no trato. Mas foi só com uma investigação científica conduzida pelas pesquisadoras Aline Colares e sua orientadora no doutorado da Unicamp, Heloísa Reis, que todas as suposições puderam ser checadas e comprovadas (ou não!). Neste sábado, 11 de fevereiro, às 14h, o público poderá participar de um bate-papo com as pesquisadoras e o sociólogo e cofundador da Anatorg – Associação Nacional de Torcidas Organizadas, Alex Minduín, durante o lançamento do livro “Fisiologia das Emoções no Futebol”, no Museu do Futebol.

O livro revela de uma forma acessível a todos os públicos, as constatações da tese de doutorado “Fisiologia das Emoções : os Torcedores Fanáticos de Futebol”, defendida por Aline Colares em 2019, na Faculdade de Educação Física da Unicamp. O estudo inédito detalha as reações do organismo de seis torcedores fanáticos pelo Corinthians, em dois clássicos do time contra o Palmeiras: na final do Paulistão 2018 (jogo de torcida única no Allianz Parque) e no segundo turno do Brasileiro do mesmo ano. As autoras avaliaram cientificamente suas reações, medindo marcadores bioquímicos associados a sinalização emocional em diferentes situações das partidas que foram perfeitas como geradoras de fortes emoções.

Pesquisa alia sociologia e fisiologia nas emoções do futebol

Heloísa Reis é professora titular aposentada da Unicamp e uma das maiores autoridades em pesquisa esportiva do Brasil. Ela vinha instigada pela obra dos sociólogos Norbert Elias e Eric Dunning, “A Busca pela Excitação”, que discute teoricamente a questão das emoções relacionadas ao lazer e o esporte. “Eu procurava há anos por um especialista em fisiologia para propor a pesquisa sugerida por Norbert Elias. Em 2016, Aline Colares chegou até mim com o convite para ser sua orientadora no doutorado que ela já havia iniciado na Unicamp. Propus a pesquisa, ela topou na hora. O resultado não poderia ser melhor”, diz.

O estudo se iniciou no mesmo ano, com levantamento bibliográfico e a estruturação da parte prática do levantamento, que foi acontecer em 2018. Foram divididos dois trios de voluntários selecionados, todos com a mesma idade média, para as duas partidas e ainda um dia controle normal de suas rotinas. Aline Colares explica que foi realizada a análise da experiência emocional desses torcedores de forma agregada aos marcadores bioquímicos (cortisol e glicose) e hemodinâmicos (pressão arterial e frequência cardíaca) revelando a trilha emocional impressa no corpo pelo ato de torcer pelo seu time.

Jogos cheios de emoção

O primeiro jogo que teve três torcedores monitorados foi a decisão do campeonato paulista de 2018. O Corinthians entrou em campo para a segunda partida da decisão tendo perdido em casa na semana anterior. Os relatos da época mostram que houve muitos lances polêmicos e a FPF não usava o apoio do árbitro de vídeo. O tempo normal terminou com vitória simples do Corinthians, o que levou a decisão para os penaltis, vencidos também pelo time do parque São Jorge. Quem conhece futebol, já imagina o ‘prato cheio’ que isso significa para uma análise científica de emoções!

A segunda partida em que a análise foi feita não teve a mesma felicidade para os corinthianos voluntários do estudo. Outros três torcedores fanáticos assistiram a derrota do seu clube do coração para o Palmeiras na 24ª rodada do Brasileirão de 2018. Após perder o clássico, o Timão acabou caindo para a nona colocação no campeonato. Assim como na primeira partida, os torcedores estavam em uma sala especialmente preparada para eles, com controle de temperatura, sem ingestão de alimentos ou outra bebida que não água.

“É a primeira vez que a impressão biológica das emoções desencadeadas pela vivência esportiva é destacada como evidência científica e como objeto de estudo da educação física”, ressalta Aline. “Conseguimos enxergar, por exemplo, que em um dia de disputa de final de campeonato, os fanáticos por futebol já acordam com seus níveis de cortisol mais elevados. Outro fato curioso é que, apenas pela análise dos níveis de cortisol e frequência cardíaca, é possível deduzir o que está acontecendo no jogo: uma chance de gol perdida, uma defesa de pênalti, uma derrota, e até se a partida já chegou ao fim”, explica.

imagem das duas autoras em pé, abraças e posando para a foto. Heloisa tem cabelos brancos e curtos, veste uma blusa jeans azul e usa um colar com um pingente grande, Aline é um pouco mais alta que Heloisa, tem cabelos curtos e escuros, e veste uma camiseta branca. As duas tem pele clara e sorriem.
As autoras Heloisa Reis e Aline Colares em evento em Campinas

Evento no Museu do Futebol

O evento de lançamento do livro Fisiologia das Emoções no Futebol em São Paulo acontece neste sábado (11) no Museu do Futebol, com um bate papo com as autoras e o convidado Alex Minduín, sociólogo e torcedor, que contribui com a visão da arquibancada para o debate. A apresentação está marcada para se iniciar às 14h, no auditório do museu, com entrada gratuita (com limite de lugares). Haverá a venda do livro no local. A obra também está disponível para compra por R$ 59,90 no Centro Esportivo Virtual (link).

Lançamento do livro "Fisiologia das Emoções no Futebol"
Aline Marques Colares Camurça e Heloísa Helena Baldy dos Reis
Sábado, 11 de fevereiro de 2023, às 14h.
Entrada gratuita
Museu do Futebol - Auditório
Praça Charles Miller, s/n - Pacaembu 
Venda do livro e bate-papo com as autoras no local
Estacionamento com Zona Azul Especial: R$ 5,75 por três horas
Heloísa Helena Baldy dos Reis 
Pesquisadora, especializada em sociologia do esporte, tem Pós-Doutorado pela Universidade de Múrcia (Espanha) e Livre-Docência pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É professora titular aposentada da UNICAMP, coordenadora do grupo de estudos e pesquisas de futebol - GEF/Unicamp/CNPq. Atua como membro do grupo Deporte, Políticas Públicas y Sociedad - Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales - CLACSO.
Aline Marques Colares Camurça
Graduou-se em Educação Física na Universidade de Fortaleza, fez mestrado em Ciências Fisiológicas, no Instituto Superior de Ciências Biomédicas da Universidade Estadual do Ceará e concluiu seu doutorado em Educação Física e Sociedade, na UNICAMP. É  docente de graduação no curso de Educação Física, entre outros, na área da saúde.
Alex Minduín
É sociólogo e cofundador da Anatorg - Associação Nacional de Torcidas Organizadas. Seminarista, palestrante e colaborador em diversas pesquisas da área do futebol no Brasil. Também é, responsável pelo processo de politização das Organizadas no país. 

fontes: para Palmeiras 1×0 Corinthians, site da CBF em www.cbf.com.br/campeonato-brasileiro-serie-a/2018, para Palmeiras 0 (3)x(4) 1 Corinthians, súmula do jogo em futebolpaulista.com.br/sumulas jogo121 ano2018 e notícias nos sites da FPF (link) e Folha de S.Paulo (link).

O Museu do Futebol faz parte da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, concebido pela Fundação Roberto Marinho e administrado pela Organização Social de Cultura IDBrasil Cultura, Educação e Esporte.