Morte na Avenida Ibijau como consequencia de problema recorrente

imagem de um laço preto, simbolo de luto, à esquerda, em um fundo cinza azulado

Moradores de Moema estão entre os que ficaram mais chocados com a tragédia ocorrida na tarde de quarta (08), quando uma idosa morreu dentro de seu carro em meio a um alagamento

Não é novidade para quem mora e convive em nosso bairro que a Avenida Ibijau é um local extremamente sujeito a alagamentos. Placas sinalizando o fato, como existem em diversos pontos da região, poderiam ser uma faixa permanente no local. As fortes chuvas de 2023, que já trouxeram tragédia no litoral norte, desta vez fizeram uma vítima fatal também nesta rua de nosso bairro. A morte de uma idosa na Ibijau, como consequencia de um problema recorrente de alagamentos, chocou quem mora ou frequenta a região e também quem nunca esteve por aqui.

Há alguns anos, uma das casinhas, entre a Jauaperi e a Gaivota, ficou completamente destruída. Uma das moradoras, funcionária de um colégio da região, recebeu apoio e ajuda financeira da comunidade escolar para reconstruir sua casa, desta vez com uma boa elevação para evitar novas invasões da água. No mesmo ano, os primeiros moradores de um prédio recém construído na Gaivota quase esquina da Ibijau também tiveram prejuízo com o alagamento de uma das garagens e vários carros precisaram ser retirados com reboque.

Até onde se sabe, nestas e nas demais ocasiões mais recentes de alagamentos naquela região, houve muitas perdas, mas todas materiais. O relato de uma morte na Ibijau, como consequencia de uma série de fatores que não a permitiram deixar o seu carro, preso no alagamento, é o primeiro, ao menos na últimas décadas. Não há como mensurar a dor de uma família que perde uma figura central em sua vida, mãe, avó, bisavó. Todos os moradores da região, e provavelmente todos os brasileiros se entristecem.

A impermeabilização da cidade é motivo de muitos problemas. A canalização de corregos e rios faz parte dele. Encontramos e transcrevemos abaixo o trecho de artigo publicado por um professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, em 2006, que cita especialmente a história da canalização do corrego sob a avenida Ibijau.

[em 1930] “As nascentes devem ter sido afetadas pela implantação da linha do bonde, mas um pequeno açude marcava o ponto de partida de um dos veios contribuintes desse curso d’água de pouco mais de um quilômetro de extensão. Prosseguia livremente pelas quadras pouco ocupadas situadas entre as ruas Rouxinol e Macuco, até a Rua Tuim, e daí até a foz atravessava terrenos ainda não parcelados.
Em meados da década de 1950, coincidindo com o leito do córrego, já estava traçada a Avenida Ibijaú, entre as ruas Macuco e Rouxinol, não por motivos de engenharia de tráfego, pois não se colocavam
problemas dessa natureza na época, além de se tratar de via curta, com apenas três quarteirões, que encontra seu fim na Rua Gaivota. A razão era possibilitar a criação de mais lotes, fechando o córrego e abrindo uma via sobre ele. Naquela época, até a Rua Tuim, o percurso da água ainda se fazia por quadras semi-ocupadas, mas, dali para frente, os terrenos antes vazios já estavam arruados em traçado bastante irregular (…) Atualmente, [2006] nada mais lembra as nascentes do córrego, mas o trecho final da Avenida Ibijaú apresenta uma larga faixa de recuo diante das casas construídas na margem esquerda, arrematada por uma pequena área verde ajardinada e equipada com bancos, numa referência, ainda que modesta, ao curso d’água que corre sob elas. Atravessada a Rua Gaivota, outra pequena área verde, arborizada e de acesso público, dá continuidade ao tratamento reverente, que é logo em seguida interrompido pelos muros de condomínios de apartamentos. Só duas quadras adiante, as pegadas do córrego são novamente notadas, graças a uma viela estreita interligando as ruas Inhambu e Tuim, pavimentada com paralelepípedos de granito e arborizada, onde semanalmente se monta uma feira livre. (…)

Trecho do artigo “A trama Capilar das Águas na visão cotidiana da paisagem”, do Prof. Vladimir Bartalini, na Revista USP nº70 junho/agosto 2006

Não deixemos de lembrar que em nossa região e em toda a cidade, além de um número impressioante de novos empreendimentos imobiliários, temos também o impacto negativo de calçadas, cada vez com menos canteiros gramados, além das diversas árvores que não são devidamente cuidadas e acabam sendo cortadas pelo crescimento irregular.

leia também: matéria de julho de 2016, na revista exame “Moradores de Moema pedem obras para conter enchentes”