Conversamos com Ceres Faraco, veterinária especialista em comportamento animal, para entender melhor como tornar estes momentos mais tranquilos para os pets (e seus humanos)
Assim como as pessoas, também os pets tem diferentes reações frente a mudanças, tanto de rotina como de ambiente. A forma de preparar o animal para as novas situações deve ser acontecer de acordo com as características da espécie e de cada indivíduo. Ceres Faraco é médica veterinária e especialista em comportamento animal. Além da mudança de casa em que a família inteira – humanos e pets – sai de um endereço para outro, a especialista também deu orientações sobre uma mudança de núcleo familiar, seja por separação dos tutores, seja por adoção do animal.
Para qualquer que seja o tipo de mudança, sempre que for possível, é importante o planejamento prévio e alguns cuidados tomados com antecedência. “Assim como você planeja sua mudança, reserve um tempo para planejar também a mudança dos pets”, lembra a médica. O que faz o animal ser feliz, antes de mais nada, segundo Ceres, é ter presivibilidade sobre a própria vida: “entender o que é dele, qual a rotina que ele tem, a forma de relação com as pessoas. É isso que o deixa feliz, que faz com que ele tenha bem-estar”.
De uma forma geral, os cuidados principais em uma mudança no que se refere ao emocional dos pets são voltados àquelas espécies que vivem soltas dentro de casa, como cachorros e gatos. Sobre eles que conversamos! Para realizar o planejamento desta logística, a especialista recomenda que se preveja quais são os elementos que vão compor a mudança: a casa, a caixa de transporte, o carro, por exemplo. E então pensar como será trabalhado cada passo da mudança, para que o animal se sinta confortável.
Com relação aos gatos, o processo pode ser mais simples que para os cães. A dra Ceres conta que “a gente coloca o cheiro do gato na casa nova!”. Isso porque esses pets se familiarizam na mudança através do olfato: o cheiro da família, o cheiro das suas coisas. A estratégia é pegar um paninho e passar no gato… e depois levar na casa nova e passar ‘por todos os cantos‘. Isso vai transferir uma quantidade suficiente do odor dele, que o deixará ‘sentindo-se em casa’ ao chegar.
Os cães demandam ações e cuidado um pouco maiores, já que sua relação com os lugares e os humanos é (normalmente) mais intensa e bem diferente que a dos felinos.
Quando mudança de endereço envolve toda a família: humanos e pets
O planejamento para uma mudança ‘geográfica’ vai ser diferente em cada situação mas, em todos eles, seja qual for a distância, será preciso fazer uma ‘habituação’ do pet ao que vai acontecer e ao meio de transporte. A dra. Ceres exemplifica: “se vai ser por carro, a gente precisa habituar o cachorro ao carro. E isso é aos poucos, não se faz de um dia para o outro”. Ela indica levar o animal até o carro, deixá-lo cheirar, já que o oufato é sua forma de percepção mais importante do mundo externo. Depois abrir as portas e deixá-lo entrar e sair voluntariamente, sempre premiando de alguma forma, até que se chegue ao ‘ligar o carro’, para ele escutar e sentir o motor.
Quando a mudança demanda uma viagem, o preparo para esta também é importante, principalmente se for preciso usar uma caixa de transporte. As caixas de transporte não devem ser consideradas um castigo por nós humanos. “Ela vai ser usada para uma viagem, seja de avião, de ônibus, ou de navio. Mas essa caixa de transporte na vida do animal, ela deve existir sempre“, recomenda a especialista. A caixa pode se tornar o ‘lugar seguro’ de seu cão, dentro de casa.
Introduza a presença da caixa aos poucos, evitando estresse. “Ela deve estar aberta para ele dentro de casa, ser um local em que ele brinque, que se coloque um colchãozinho confortável, ou jogue algum petisco, sempre com a porta aberta“. Depois de algum tempo, a médica diz que com ele lá dentro, o tutor pode fechar a portinha e abrir logo em seguida, para que esse ‘processo de conhecimento’ gere o menor trauma possível (isso vale, mesmo em viagens mais longas em que, eventualmente, é preciso que um veterinário faça um acompanhamento e prescreva algum medicamento).
Conhecer o novo lugar
Pensando-se em uma mudança de endereço dentro da mesma cidade, a veterinária sugere que sejam feitas visitas com o cachorro à nova casa, sempre que possível. No caso de não haver a possibilidade de entrar no endereço, passeios na vizinhança também terão grande valor. No momento da mudança não será tudo novo, o cãozinho já vai reconhecer o lugar. Isso também vale quando se pensa em adoção, seja de um animal em abrigo ou em lar temporário. Nem sempre é possível, mas o ideal seria o pet visitar a casa em que vai morar e conhecer a família, antes dia da mudança definitiva.
Os objetos dos animais
Em todos os tipos de mudança, seja de endereço, seja de família, os pertences do animal precisam ir junto com ele. “Uma coisa que as pessoas fazem é vou pra uma casa nova, então vou comprar um pote de comida novo, uma caminha nova.. Não! Leva tudo o que é velho, que tem o cheiro dele, que tem a cor que ele conhece. É ‘o patrimônio dele’, esse tem que ir junto. Depois que o cãozinho estiver na situação nova, habituado a ela, aí, se o humano quiser, ele compra objetos novos – mas aos poucos.”
Quando o animal em questão já é idoso, ela recomenda que se deixe tudo próximo a ele. Ele precisa conhecer a casa nova, mas é importante que não tenha que se deslocar muito para encontrar aquilo que procura, seja o pote de água, algum brinquedo ou mesmo o tapetinho higiênico.
Quando o animal vai mudar de família
A dra. Ceres explica que a condição de ‘lar temporario‘ pode ser considerada quando o animal ficou pouco tempo realmente com a família não definitiva: entre alguns duas ou até no máximo duas semanas. Depois desse tempo, a situação vai se assemelhar a uma separação, que é outro tipo de mudança na vida do pet. Vai ser ainda mais importante levar os objetos dele, para que ele se sinta também seguro. E, importante: programar as visitas para ele conhecer a nova família, depois voltar para casa, e novamente ir visitar e voltar. Ela comenta que não é fácil, é preciso entender os medos do animal e ter paciência, mas é possível realizar.
Uma coisa importante em qualquer mudança, é dar muita atenção e afeto. Durante a fase de adaptação, seu pet pode precisar de atenção e afeto extras. Reserve tempo para interagir com ele, brincar e acariciar para ajudar a fortalecer os laços e aumentar a sensação de segurança. Tentar manter uma rotina de passeios e brincadeiras e mesmo dos horários de se alimentar é outra dica importante. A consistência ajudará a diminuir o estresse. E ter paciência, já que a adaptação pode levar tempo, independentemente de qual tiver sido a mudança.
Enriquecimento ambiental como apoio na adaptação
O enriquecimento ambiental pode ser uma boa ferramenta de apoio à adaptação, porque o ambiente acaba se tornando lúdico e, com isso, mais leve. Para os gatos, uma sugestão é esconder comida em alguns lugares para eles acharem. Já para os cachorros, propor brincadeiras com aqueles brinquedos recheados com alguma comidinha ou petisco. “O enriquecimento ambiental deve ser feito sempre, mas não se esquecer que na mudança ele pode ser usado como recurso para os animais sentirem mais prazer de estar no novo ambiente’.
Ficar sozinho, mesmo quando o humano está em casa
A Dra. Ceres comenta ainda que o ‘desapego’ ou ‘desgrude’ do humano com o animal e vice-versa, deve ser uma coisa treinada. Isso vale mesmo para quem não pensa em mudanças. “Se nós ficarmos com ele o tempo inteiro, como ele vai se sentir quando não tiver essa referência?” Outra atitude que deve ser incluida na rotina do tutor é lembrar de premiar quando o cachorro está quietinho. É uma forma de aliviar a ansiedade e reforçar bons comportamentos: não dar apenas atenção quando ele fez algo errado.
Dra. Ceres Faraco Médica Veterinária Comportamental em São Paulo, atendimentos em domicílio Contato @ceresfaraco
Excelente matéria com dicas muito úteis para tornar experiências de mudanças mais tranquilas para os pets (e assim, deixar deus tutores mais tranquilos também, nessas ocasiões)!
*seus tutores