Artigo: Saúde Mental não é fast-food

imagem das mãos de uma pessoa, aparentemente um homem adulto, escrevendo à caneta em algumas folhas, são vists as mãos e parte dos braços com camisa de mangalonga azul clara. a mão direira escreve com a caneta e a esquerda está apoiada segurando os papéis.
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por Claudio Melo

Saúde Mental não é fast-food: Imediatismo atrapalha o tratamento de transtornos psicológicos

Conforme a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofrem com a depressão. No entanto, isso não significa que todas apresentem os mesmos sintomas ou que devam seguir o mesmo tratamento. É muito importante ter em mente que o diagnóstico de um transtorno mental é apenas o primeiro passo de um processo muito mais complexo e singular para cada paciente.

Um transtorno não se reduz ao diagnóstico, este é apenas uma ferramenta para orientar o tratamento. Contudo, vivemos numa sociedade em que as pessoas buscam se identificar com uma imagem, um ideal. E com certeza isso vai influenciar no tratamento, porque não é algo de você tomar uma medicação aqui ou fazer um procedimento psicoterápico ali e pronto, resolvido, é um processo demorado, complexo.

É também importante se atentar para a cobrança que a sociedade faz para que as pessoas apareçam sempre felizes e bem-dispostas, como se fosse possível chegar e escolher uma personalidade na prateleira do supermercado. O que preocupa nesse processo de identificação é que as pessoas ficam presas a esses rótulos e, de alguma forma, entendem que o tratamento deveria aproximá-las desse ideal e não de si mesmas.

No geral, isso tudo é uma grande fuga para não nos confrontarmos com nós mesmos. O grande perigo que há nisso para pessoas que realmente têm um transtorno mental, é banalizar o processo de adoecimento psíquico. Diferente de olhar para uma imagem ideal e ir buscá-la, pelo contrário, no acompanhamento terapêutico é necessário compreender o que verdadeiramente há do sujeito, o contexto das relações familiares envolvidas, as relações sociais e a história.

É claro que hoje é possível cuidar de sintomas mais graves e oferecer uma melhora na qualidade de vida do paciente de maneira efetiva, mas isso não significa que existe uma solução mágica, o tratamento leva tempo, mas sempre vale a pena. Independente do diagnóstico, o tratamento é a parte mais complexa e importante para reconquistar o bem-estar.

Sobre o autor: Cláudio Melo é psicólogo pela Universidade Federal da Bahia, pós-graduado em Saúde Mental Coletiva, pela mesma universidade e mestre em Psicologia pela UFRJ. É Coordenador do Núcleo de Transtorno de Personalidade da Holiste Psiquiatria

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