por Paula Sian
“Sabemos que a pele reflete muito mais do que nossa aparência, ela é uma janela para nossa alma e estado emocional”, Paula Sian.
Eu cresci ouvindo que a causa de todos os meus problemas era o leite de vaca e bactérias. Fui uma criança que tive muitas crises de otite, amigdalite e febre alta. Tomei muitos antibióticos e muita dipirona. Mas coincidentemente, eu ficava mais doente após fases de muito estresse emocional.
Mas que estresse emocional uma criança pode ter? Tentem pensar na criança como uma esponja, que absorve tudo aos eu redor. O bebê nasce com as impressões que a mãe lhe passou do ambiente, enquanto estava na barriga dela. Estava protegido do ambiente em partes, porque o que a mãe experienciou, sentiu, passou para o bebê.
Assim a vida segue. Nós vamos ignorando os efeitos das emoções, pensando que é tudo frescura, que temos que ser fortes, até que isso atinge o corpo e acabamos com um diagnóstico que pode não ser tão agradável, e as vezes, perigoso.
Atendo diariamente pessoas que sofrem influencias das emoções na pele. Coceiras, alergias, descamações, caspa, acne, urticaria, queda de cabelo, Melasma, cabelos brancos precoces, envelhecimento precoce, pele ressecada… e por aí vai.
Cada corpo tem uma predisposição, cada corpo tem um sintoma. E vamos deixar bem claro: bem vindo sintoma! Como Diria Freud, isso é a entrada da luz na nossa consciência.
Recebemos um corpo, e a missão de cuidar dele. No entanto, deixamos o corpo no piloto automático e simplesmente nos focamos apenas no externo: trabalhar, pagar conta, consumir, ganhar dinheiro para gastar mais ( já perceberam que a conta nunca fecha?), casar, ter filhos, ter ou não cachorro/pet, divorcio…
Cansativo só de pensar, imagina de viver. E o que fazemos? Deixamos a mente ficar atuando em looping, correndo atrás do rabo no pensamento. Deixamos as emoções ignoradas, como se não fossem importantes, e o pior, reclamamos quando ficamos doentes, porque temos que finalmente, e por nada espontânea vontade, sair do automático de trabalhar e reclamar.
Trabalhar, trabalhar, trabalhar. Cadê o tempo de lazer, de cuidar da saúde, de comer direito, de descansar? Alguns casos me chocaram ao longo desses anos, porque as pessoas escolhiam se ignorar em prol dos outros, da aprovação externa.
1) Mulher de 52 anos com psoríase fora de controle. Só o rosto estava livre. Desde o couro cabeludo ate é pés acometidos. Já haviam tentado interna-la, mas ela não aceitava. Tinha alto risco de desnutrição, desidratação e pegar infecções. Mas ela tinha que trabalhar, sustentar a casa, levar e buscar o marido e as filhas no trabalho e na escola, cuidar do serviço doméstico. Essa mulher só existia para os outros, não para ela. E de quem era essa responsabilidade? Dela mesma. Quando disse que ela deveria aprender a dizer não e ir para terapia psicológica, a vida dela mudou. Aprendeu a dar limites, inclusive para si mesma. A síndrome de mulher maravilha estava acabando coma saúde dela.
2) Mulher de 32 anos, prestes a se casar. Tinha crises de urticária todas as vezes que ia visitar a sogra. Ela ia bem, voltava empolada, o corpo todo acometido, se coçando loucamente. Precisávamos entrar com doses altas de corticoide e antialérgicos para controlar as crises. Eu falava de ser causado por estresse, porque todos os exames estavam normais. Mas ela negava. Achava alergia do amendoim, do peixe, da cerveja choca… cada hora achava uma causa externa. Até que a sogra veio passar uma temporada com eles na sua casa, e a urticaria dela não melhorava. Foi a sogra partir, que a urticaria melhorou. Ela realmente só deixou de ter urticária quando se divorciou do marido.
3) Homem de 39 anos, executivo de sucesso, com queixa de caspa há anos na cabeça, mas agora acometendo o rosto também. Ele viajava muito, participava de muitas reuniões, não podia ficar assim. Estava usando pomadas fortíssimas de corticoide, que traziam um efeito rebote perigoso: acne, com afinamento da pele. Já estava com cicatrizes causadas pelo uso do corticoide. Entrei com tratamentos para melhorar, e ele melhorava. Mas esporadicamente, quando tinha grandes apresentações, especialmente para os americanos, a pele piorava muito. Nunca quis fazer psicoterapia, mas segue reclamando para mim de que nada cura de vez a sua caspa.
4) Homem de 43 anos, executivo de sucesso. Em todo o fechamento do ano fiscal da sua empresa, ele tinha alopecia areata, ou seja, áreas de falha de cabelo. Sempre na mesma época, mas a intensidade piorou, o tamanho das lesões aumentou, e o tratamento já não resolvia tão rápido. A sua vida realmente mudou após ter um infarto, mudar de trabalho e fazer psicoterapia. O corpo já estava mostrando, mas precisou quase morrer para acreditar em si mesmo.
Acreditemos em nós mesmos. O corpo faz parte da gente! Não é algo à parte. E entendam o mais importante deste texto: se está aparecendo na pele, é porque o seu emocional esta gritando para chamar atenção! Acreditem na pele de vocês. Cuidem-se!
Sobre a autora: Paula Sian é dermatologista, pela Faculdade de Medicina UNESP- Botucatu, tem especialização em urticaria e alergias imunoambientais, medicina chinesa e MBA gestao em negocios. É autora do livro “Um Burnout para chamar de seu”.
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