Dispositivo criado por startup do Rio Grande do Norte já está ajudando mais de 5 mil cães cegos a se locomoverem com autonomia e em segurança
Como muitas das invenções humanas, também o Blindog surgiu de uma necessidade pessoal das criadoras. A cadelinha Princesa, de Luana Wandecy, estava ficando idosa e começou a perder a visão. A tutora conta que pesquisou alternativas para evitar as colisões e machucados, além do receio que sua companheirinha poderia ter de se locomover. Ela conta que na época, há cerca de 10 anos, o que havia de opção era uma espécie de ‘bambolê’ para colocar em torno do corpo do cachorro. A cadelinha de Luana, que já tinha também um problema de mobilidade, não teria qualquer vantagem com o uso desse equipamento.
A ideia de um dispositivo eletrônico que avisasse ao cachorro a presença de obstáculos foi surgindo em sua mente e, incentivada por um amigo, ela participou de um evento de inovação. Foi lá que ela conheceu sua sócia, Natália Dantas, outra tutora que sofria pela perda de visão de seu cão e não via soluções para isso. A necessidade comum de encontrar uma solução que devolvesse autonomia para seus pets foi o motor para o início das pesquisas e a invenção do Blindog. O primeiro protótipo ficou pronto no final de 2015 e ao longo que mais dois anos as sócias realizaram vários ajustes e modificações até chegar ao produto final.
Luana conta que a maior preocupação que tinham era criar algo que não trouxesse incômodo aos cachorros: “nós passamos esse periodo fazendo testes e reformulando várias e várias vezes, até chegar a uma versão que, de fato, o animal conseguisse se adaptar bem e que não causasse qualquer tipo de estresse“. Ela acrescenta que, como os cães já têm o costume de usar coleira, a ideia de criar um dispositivo leve para ser pendurado nela, pareceu perfeita. É importante frisar que durante todo este período (e até hoje), as sócias contam com a consultoria especializada da Dra. Ana Íris Batista, veterinária oftalmologista.
Como funciona o Blindog
“Nós pensamos em usar a vibração e não aviso sonoro, porque muitos dos animais idosos, além de cegos também possuem problemas de audição”, explica Luana. O equipamento tem um sensor e avisa ao cão quando ele estiver perto de um obstáculo. “O cão naturalmente mapeia mentalmente o ambiente onde vive de acordo com as batidas. Partindo desse condicionamento natural, ele assimila o impacto à vibração e age com seu instinto natural de desviar sempre que sentir o estímulo.”
O Blindog é feito em tamanho único, para todos os cães. Ele tem formato de um pequeno ossinho, pesa cerca de 40g, equivalente a uma pilha comum. A diferença está no comprimeiro da alça de ‘fixação’ à coleira. Há um tamanho para cães mini e os que tem pernas mais curtas, como os Dachshund, e um tamanho para todos os outros portes. A outra diferença é na regulagem do equipamento, que é entregue pronto para uso. Os alertas vibratórios são emitidos a partir de uma distância mínima até uma distância máxima, de acordo com a medida do cachorro.
Ao contrário de outros objetos que compramos para nossos pets, a medida solicitada para o ajuste é a do tamanho do focinho do cão, do pescoço até sua pontinha! São quatro tipos de regulagem. O equipamento não irá vibrar enquanto o cão está se alimentando, bebendo água ou mesmo deitado em sua caminha. A bateria é recarregável como de um celular e a hora da soneca é perfeita para que o tutor faça isso: o Blindog precisa de 2h para carregar completamente. A carga pode durar entre 12 horas e até 3 dias, de acordo com a quantidade de vibração emitida: quanto mais vibrar, menos tempo ela irá durar.
Uso e adaptação
O tempo de adaptação varia bastante de acordo com cada animal (e também com cada tutor!). Alguns, segundo a criadora do Blindog, em questão de minutos já passam a desviar dos objetos e outros, em poucos dias estão totalmente adaptados. A experiência nestes anos e depois de mais de 6 mil unidades vendidas é que quando o tutor deixa o cão experimentar e não fica tirando o equipamento da coleira, essa adaptação corre mais fácil. “Não há uma raça que se adapte mais rápido, mas se for para citar, os animais de porte pequeno, como alguns Shih Tzus que vieram aqui testar, foram impressionantemente rápidos em entender e se adaptar’.
Para estimular esse treino, ela orienta os tutores a colocarem algum pufe ou objeto no chão, em um local que normalmente estaria ‘livre’ e depois colocar o equipamento no cachorro. “Quando o animal sente a vibração e em seguida colide, num lugar que estava mapeado como livre, no que se repete isso, ele já percebe uma relação entre as duas informações”. Se o cachorro desvia corretamente do objeto, o tutor deve dar um reforço positivo, que seja com carinho, mesmo, para mostrar que a ação foi correta. Luana conta que recebe relatos e vídeos mostrando como os cães voltam a ser ativos, alguns deles, até brincando novamente com bolinhas e correndo pela casa.
Reconhecimento e expansão da BlinDog
Há algumas semanas, a BlinDog recebeu o título de Startup Revelação na maior premiação de ecossistemas de inovação do Brasil, o Startup Awards. Essa é primeira vez que uma empresa potiguar leva o prêmio no encontro que é considerado o Oscar das startups brasileiras. “Ser a primeira do Rio Grande do Norte a receber o prêmio nessa categoria é motivo de orgulho duplo, pois não só coloca nosso estado no mapa das startups inovadoras como também reflete a diversidade e potencial de empreendedor de todas as regiões do Brasil. É um lembrete de que grandes ideias podem surgir de qualquer lugar”, comemora Luana.
Um pouco antes, no mês de outubro, a própria Luana foi eleita pelo MIT Technology Review no ‘Innovators Under 35‘ como uma das 18 mentes mais inovadoras do Brasil em 2023. A empresa é a única do mundo a resolver o problema da cegueira canina através de tecnologia e, claro, já tem sua patente internacional. Os produtos podem ser comprados online e são entregues por correio ou transportadora para todo o país. No exterior já há cães cegos beneficiados pelo Blindog em países como Portugal, Espanha, Estados Unidos, Canadá e Holanda.
Blindog Peso: 45g Tamanho: 6 x 3 x 3 cm Modelo mini: disponível na cor branca Modelo normal: disponível em seis cores diferentes Para saber mais acesse www.blindog.com.br
Assistência técnica – A empresa oferece assistência técnica própria na matriz, para troca da bateria, que pode acontecer após cerca de dois anos de uso, ou mesmo se houve algum incidente, como ter caído na piscina! Entre em contato por email: contato@blindog.com.br
Em breve, alguns petshops brasileiros vão oferecer o produto em suas lojas. É uma chance importante para quem gosta de conhecer ‘ao vivo’ o produto antes da compra, ainda que exista uma possibilidade já ativa de devolução, caso ele não atenda às expectativas.