Longa nacional, produzido ‘fora do eixo’ e premiado no Festival de Cinema de Pernambuco de 2023, chega aos cinemas disputando espaços nas salas do país
A pré-estreia de Agreste, na última segunda, 11, em São Paulo, lotou duas salas do Reag Belas Artes e – mais que isso – conquistou aplausos e elogios dos presentes. A história, passada no sertão nordestino, mostra uma realidade local, em que o patriarcado fala mais alto, as mulheres devem obediência aos pais e depois aos maridos, e a religiosidade tem um grande peso na vida. O roteiro é uma adaptação da peça homônima do dramaturgo pernambucano Newton Moreno.
O diretor Sérgio Roizenblit conta que assistiu a peça logo depois de sua estreia, em 2004, e depois reviu algumas vezes ao longo do tempo. “Eu decidi fazer o filme por conta da peça e do lindíssimo texto do Newton”, conta. Para esta adaptação para o cinema, ele chamou o próprio autor para assinar o roteiro, ao lado de Marcus Aurelius Pimenta. A locação escolhida é a mesma do longa Saudade fez morada aqui dentro, que estreou no último mês de setembro nos cinemas: a pequena Curaçá, na Bahia.
“A entrada de Curaçá no filme foi muito curiosa. Quando lancei meu primeiro longa para o cinema, acabei sendo convidado pela Isa Ferraz pra fazer alguns filmes para o Museu Cais do Sertão, em Recife. Quando fui filmar, passei numa pequena comunidade quilombola. E era muito, muito bonita. E eu pensei que se um dia fizesse o filme Agreste, seria lá. Quando o Newton me escreveu falando de retomar o projeto do filme. Eu disse que já tinha a locação”, revela o diretor.
Agreste tem uma fotografia que remete a Vidas Secas, propositalmente. A história gira em torno da relação entre Etevaldo (Aury Porto) e Maria (Badu Morais), que é apresentada ao público em uma sequencia de cenas sem nenhum diálogo, apenas olhares e gestos. A voz dos atores só aparece depois que o casal, formado por um trabalhador rural e uma moça prometida em casamento, foge à pé do vilarejo em que a moça morava, pelo interior.
Resgatados por uma senhora sozinha, Valda (Luci Pereira), extremamente religiosa, acabam se fixando em uma casa cedida por ela em seu terreno. A relação do trio em pouco tempo se torna de família, já que Valda vê Maria como uma filha. A história apresenta diversas nuances do que é a vida e os conceitos sobre costumes no sertão. O desfecho é surpreendente e reforça a importância das normas sociais e religiosas do local, uma comunidade conservadora, acima dos sentimentos e afetos.
O longa foi apresentado no Cine PE Festival 2023 e recebeu cinco prêmios, entre Melhor Fotografia (Humberto Bassanello), Melhor Ator Coadjuvante (Roberto Rezende), Melhor Atriz Coadjuvante (Luci Pereira), Melhor Roteiro (Newton Moreno e Marcus Aurelius Pimenta) e ainda a foi a escolha do público como Melhor Filme. Mesmo com essas credenciais, em grandes cidades, como São Paulo, ele não estará em muitas salas.
O diretor Sérgio Roizenblit, não esconde a realidade vivida pelo cinema nacional, em especial aquele fora do eixo Rio-SP. “Distribuir um filme autoral no Brasil é algo que não desejamos pra ninguém. É muito, muito difícil. Este é o segundo longa que estou lançando. O outro faz mais de 10 anos e de lá pra cá, piorou muito”, lamenta. Na capital paulista, o filme poderá ser visto em apenas dois cinemas: Reag Belas Artes e Cinesystem Frei Caneca, com um total de quatro sessões diárias.
Sinopse Agreste é uma história de amor no sertão brasileiro. Etevaldo é um trabalhador rural solitário e reservado, recém-chegado ao vilarejo. Encontra Maria, jovem de espírito livre, porém prometida em casamento a um senhor da vizinhança. Ambos se apaixonam e fogem. São acolhidos por Valda, uma senhora profundamente religiosa, que vê Maria como uma filha. Quando um suposto sequestro passa a ser investigado na região, Etevaldo teme que seu passado seja revelado.
Agreste
Cinema Belas Artes
R. da Consolação, 2423 – 13h40 e 18h20
Cinesystem Frei Caneca
R. Frei Caneca, 569 – 14h15 e 18h45
@agresteofilme