Artista plástico ensina técnica de desenho para cegos a partir do tato

A ação foi promovida no Paraná, mas pode servir de inspiração para vários artistas, moradores de Moema e Região.

O artista plástico internacional André Baía dedicou uma tarde trabalhando com deficientes visuais em Curitiba. Ele passou ao grupo do Instituto Paranaense de Cegos a técnica aplicada em sua nova exposição o “desenho de contorno cego”. Uma forma de arte que independe de visão no momento de imprimir sua observação no papel.

A técnica consiste em o artista observar um objeto ou pessoa e desenhá-lo sem olhar para o papel ou tela antes de iniciar o processo de pintura. Uma arte que pode ser caracterizada como imperfeita, cheia de expressividade. O artista André Baía aplica essa técnica em sua série de obras atualmente em exposição no centro de Curitiba. O workshop que ele promoveu tinha o objetivo de compartilhar essa forma de arte com pessoas cegas.

“Conversando com a professora de artes do Instituto, ela comentou que eles não acreditam que o que produzem nas aulas de artes visuais seja de fato arte, por não ser exata, por lhes faltar a visão”, comenta André Baía, “Foi muito gratificante cumprir com a proposta inicial que era passar confiança para eles, para que entendam que o que eles fizeram ali é arte. Não há certo ou errado na arte. O importante é o processo de criação. A beleza está no fazer”.

As pinturas com base no desenho de contorno cego, além de terem a intensidade e a personalidade do artista impressa na obra, busca capturar a essência e a aura da pessoa observada. Para as pessoas cegas, a observação inicial do objeto, como não poderia deixar de ser, se dá pelo tato. O resultado é uma pintura ­figurativa distorcida, com pinceladas expressivas.

Arte traz confiança, inclusão e autonomia para deficientes visuais

A aluna Veranice Ferreira experimentou pela primeira vez desenhar livremente durante o workshop e ficou feliz. “Eu venho de um universo tão diferente do que estou vivendo agora, e quando uma pessoa se disponibiliza para doar um pouco do seu tempo eu admiro demais. Me desperta muita alegria participar de algo novo, uma nova vivência, algo que nunca me imaginei fazendo”, diverte-se.

André Baia ajusta o óculos de um garoto que participa do workshop.

A professora de artes Juliana Partyka, do Instituto Paaranaense de Cegos, conta que o receio em relação á artes visuais é grande, devido a insegurança do não enxergar. “Buscamos oferecer a autonomia, então visitamos museus e exposições. Também fazemos o convite para os artistas virem até nós. Todo mundo pode fazer arte, então com isso a pessoa cega ganha autonomia, melhora a autoestima, é sempre positivo ter essa confirmação de profissionais”.

O resultado desta oficina será mostrado em uma exposição, ainda a ser agendada.

André Baía, já teve suas obras expostas em galerias de vários países. Atualmente participa como convidado de uma mostra em Curitiba. A ausência do correto e a provocação do imperfeito marcam a exposição de André Baía, que fica em cartaz até fevereiro de 2020 na Galeria Solo (Rua XV de Novembro, 818, Curitiba.PR).