Médico epidemiologista reforça o fato de que a imunização só será completa após as duas doses da vacina e que, ainda que haja diferença entre elas, não se deve escolher qual tomar.
O Brasil trabalha hoje com três diferentes vacinas contra a COVID-19, aprovadas pela ANVISA, produzidas a partir de tecnologias diferentes. Essa variação chegou a gerar algumas duvidas entre as pessoas e há diversos relatos de ‘escolha’ de qual vacina tomar. O médico epidemiologista André Ribas Freitas, consultor científico do HubCovid refuta completamente esta atitude. Ele ressalta que há diferenças entre as vacinas mas isso não deve ser motivo para adiamento ou escolha, uma vez que todas são seguras.
O ritmo da vacinação no país não está tão acelerado como seria desejável. Hoje, no Brasil, 21,58%* da população já tomou pelo menos uma dose da vacina. O volume percentualmente e apenas um pouco mais baixo que no Estado de São Paulo que tem 24,92%* de vacinados com a primeira dose e 12,31%* também com a segunda dose. É preciso que todos se vacinem tão logo estejam elegíveis de acordo com o cronograma local.
Vacinas em uso no Brasil
O epidemiologista da Faculdade São Leopoldo Mandic enfatiza que as vacinas contra Covid-19 que estão sendo usadas no país podem ser aplicadas em todos os grupos de pessoas [acima de 18 anos]. Diferentemente de outros imunizantes existentes, estes não utilizam vírus atenuado. Caso fosse essa tecnologia, ela seria contraindicada a alguns perfis, mas não é o caso. São três as tecnologias usadas nas vacinas que temos hoje disponíveis no Brasil. A vacina do Butantã/Sinovac utiliza o vírus inativado. Já a da Fiocruz/Oxford/AstraZeneca é feita com Vírus Vetor e a Pfizer utiliza a tecnologia de RNA mensageiro (veja quadro abaixo).
Mesmo as pessoas que foram infectadas pelo coronavírus devem se vacinar. O Dr. André comenta que para quem passou pela doença é indicado aguardar 30 dias para tomar a vacina. Ele ressalta que a segunda dose é igualmente importante e todos devem tomar, dentro do intervalo indicado. Este prazo é determinado pelo fabricante, baseado nas pesquisas realizadas e deve ser respeitado. Apenas após a segunda dose, a efetividade da vacina, indicada nos estudos clínicos, será alcançada. Existe uma necessidade de atenção a qual vacina foi aplicada como primeira dose, para que seja usada uma dose da mesma, como segunda.
A três vacinas usadas atualmente no Brasil CoronaVac (Butantã/Sinovac) - vírus inativado É uma das técnicas mais antigas de produção de vacina. Um vírus é ‘cultivado’ e multiplicado. Depois ele é inativado ("morto") por calor ou substância química, mantendo seu formato, mas não sua periculosidade. Quando o corpo recebe a vacina reage ao vírus (mesmo inativado) como em outras infecções, produzindo anticorpos. Fiocruz/Oxford/AstraZeneca – vírus vetor Esta tecnologia usa um vírus ‘inofensivo’ como vetor, ou seja como condutor, de uma fração do código genético de outro vírus (no caso, sar-cov-2). Este fragmento é insuficiente para que o corpo reproduza o vírus original, será apenas o bastante para reprodução da proteína do pico deste vírus. A partir da presença deste ‘espigão’, o sistema imunológico de quem recebeu a vacina passa a produzir anticorpos. Pfizer/BioNTech – RNA mensageiro Nesta técnica, a vacina simula o processo que ocorre no corpo de uma pessoa que realmente contraiu a doença. Ela possui um trecho do RNA do vírus, inofensivo, mas que codifica um antigeno específico da doença. As células usam a informação genética para produzir essa proteína, que é reconhecida pelo organismo como um 'corpo estranho', o que induz o sistema imunológico a produzir anticorpos.
Reações à vacina
Os relatos de reações à vacina, como dores no corpo, dor de cabeça e náuseas não devem desencorajar ninguém de completar sua imunização. É impossível afirmar se uma pessoa que teve reação à primeira dose terá na segunda. O epidemiologista explica que isso se deve ao tipo de vacina produzido contra a Covid-19. A crença de que em uma segunda dose nosso corpo já reconheceria a substância e, portanto, não haveria novas reações, vale apenas para vacinas que usam vírus atenuado. É o caso da vacina contra Febre Amarela que, no entanto, tem contraindicações.
“São mais frequentes [segundo relatos] as reações à vacina da Oxford, mas não é motivo para deixar de se vacinar”, comenta o Dr. André. “Não se deve escolher a vacina A ou B e adiar a vacinação [em primeira dose] em função disso”, ele reforça. A ênfase tem razão de ser: em diversos locais de vacinação são relatadas esta postura, de pessoas que perguntam qual a vacina para definir se tomam ou não. O consultor científico do HubCovid alerta para o perigo se de adiar a vacinação e lembra que “o primeiro motivo é evitar a morte“.
Caso Pfizer
Diferentemente do que acontece com a vacinação com CoronaVac e AstraZeneca, no caso da Pfizer houve uma alteração no intervalo para se receber a segunda dose, em alguns países, inclusive o Brasil. O epidemiologista da Faculdade São Leopoldo Mandic explica o caso. Em um primeiro momento de testagem, o intervalo determinado pela fabricante foi de 21 dias, porém o acompanhamento de casos na Europa mostrou que a efetividade pode aumentar em intervalor maiores. O laboratório infoma na bula que o período mínimo entre as doses deve ser de 3 semanas, mas a autoridade médica de cada país pode optar por intervalos maiores.
O médico comenta que ao estender o prazo para a segunda dose, o objetivo, no Brasil, foi de aumentar o número de pessoas vacinadas com a primeira. Esse prazo passou a ser considerado de 90 dias entre as aplicações. Em algumas cidades, porém, que chegaram a vacinar parte da população antes da mudança de calendário, o intervalo menor foi mantido e há brasileiros que completaram sua imunização com a vacina da Pfizer. O médico esclarece que este não é um motivo de preocupação e mais uma vez frisa que todos devem tomar ambas as doses.