Projeto Aves de Noronha convoca moradores do arquipélago e turistas para colaborar com o monitoramento de duas espécies de aves endemicas em risco de extinção
A ideia dos pesquisadores do Projeto Aves de Noronha é unir forças para conseguir um resultado melhor no monitoramento de duas espécies de aves que só existem alí. O sebito-de-noronha (Vireo gracilirostris) e a cocoruta (Elaenia ridleyana) são duas pequenas aves endêmicas de Fernando de Noronha, atualmente colocadas no rol das espécies em risco de extinção. Os pesquisadores têm como meta traçar estratégias e políticas públicas para proteção destas espécies, apontar práticas de conservação e criar um observatório para pesquisadores e turistas.
“Apesar de os avistamentos dessas duas espécies endêmicas da ilha serem frequentes, até o momento não existem muitas informações sobre elas. Pouco se sabe sobre o período e o sucesso reprodutivo dessas aves que estão ameaçadas de extinção”, afirma Cecília Licarião, coordenadora do projeto Aves de Noronha. A iniciativa do Instituto Espaço Silvestre que está prestes a completar cinco anos de atuação no arquipélago e tem apoio técnico e financeiro da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Além da preservação das espécies como fim, outras metas do projeto são conscientizar moradores e turistas sobre a importância de se preservar a diversidade de espécies de aves marinhas do Brasil, além de estimular a economia local, a ciência e a comunicação. O chamado ao engajamento no censo visa ainda multiplicar o conhecimento sobre as aves locais. “Sabemos que essas aves fazem muitos ninhos nos quintais das casas. Nada melhor que os proprietários desses endereços compartilharem conosco as informações”, comenta a pesquisadora.
Ela ressalta que a circulação dos turistas pode ajudar no processo de coleta de dados, uma vez que eles são chamados a fotografar e indicar a localização de cada achado da forma mais precisa possível. Uma das preocupações que todos devem ter é que a vontade de fotografar não pode ultrapassar o limite do cuidado. A busca pelo melhor ângulo jamais pode chegar ao ponto de assustar as aves, ou o resultado seria o oposto do pretendido.
Cecília comenta que com as tags e anilhas é possível identificar as aves e saber como e por onde elas se locomovem. “No ano passado, conseguimos registrar um ninho com três filhotes, algo pouco usual, pois o mais comum são apenas dois filhotes. Dados como esse podem ajudar a atualizar o status de conservação das espécies e levantar novas necessidades de atuação para protegê-las”, completa. De acordo com dados da Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), existem cerca de mil sebitos e cocorutas nas ilhas.
Este ano, até o momento, a equipe de pesquisadores tem 28 ninhos registrados, sendo que 18 continuam em atividade. O número é considerado alto por eles, que registraram em 2022 um total de 108 ninhos. A ajuda no projeto é voluntária. Moradores de Noronha e turistas das ilhas podem enviar informações sobre essas aves endêmicas, como localização, data e fotos dos avistamentos de ninhos por mensagem no Instagram ou whatsapp (81.98204-9965).
“Mobilizar a sociedade e reunir informações sobre as espécies é essencial para que estratégias e políticas públicas de conservação sejam adotadas para protegê-las da extinção. Cada espécie desempenha um papel ecológico importante. O desaparecimento de alguma pode gerar um desequilíbrio”, afirma a gerente de Projetos da Fundação Grupo Boticário, Janaína Bumbeer, reforçando que o turismo responsável de natureza é um aliado para conscientizar as pessoas sobre a importância de proteger e também para gerar renda e desenvolvimento para comunidades locais.
O Arquipélago de Fernando de Noronha abriga a maior diversidade de aves marinhas do país. Ao todo, são quase 90 espécies de aves registradas que usam a ilha para descanso, alimentação e reprodução. Destas, 17 são residentes, ou seja, moram em Noronha e podem ser observadas durante todo o ano. Das espécies encontradas, seis estão em perigo de extinção e duas delas, o sebito-de-noronha e a cocoruta, só existem em Fernando de Noronha.
Sebito-de-noronha Sebito-de-noronha ou juruviara-de-noronha é o nome desse pássaro que habita florestas, jardins e áreas arborizadas, com preferência pelas copas dos mulungus. Alimenta-se de insetos e artrópodes, como pequenas aranhas. As aves têm cerca de 15 cm de comprimento, pesam, em média, 10 gramas, e coloração verde-acinzentada nas partes superiores e marrom-claro e creme no ventre. A fêmea coloca cerca de três ovos, que são chocados durante 12 ou 13 dias. Seu ninho, em formato de tigela funda, é feito de folhas e preso nas forquilhas das árvores. O pássaro sofre ameaça pela degradação de seu habitat, introdução de espécies exóticas na região e o turismo desordenado.
Cocoruta A cocoruta é um pássaro de 17 centímetros de comprimento, com pescoço branco e laterais e peito em tom acinzentado. A barriga é de coloração amarelada. Alimenta-se de insetos e frutos e, segundo os pesquisadores, uma cocoruta pesa, em média, 20 gramas. É encontrada em matas secas e áreas antrópicas do Arquipélago de Fernando de Noronha. É uma espécie ameaçada de extinção devido à ocupação humana e ao turismo desordenado no arquipélago.