Por Luis Filipe Fonseca
Apesar dos avanços conquistados nas últimas décadas, ainda enfrentamos grandes desafios para levar saneamento básico a todos os cantos do nosso país. A falta de acesso à água potável e a sistemas eficientes de coleta e tratamento de esgoto não é apenas um problema local, mas uma questão global que atinge milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente em países em desenvolvimento.
Especialmente no Brasil, este número é bastante alto. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) apontam que 100 milhões de pessoas carecem de acesso aos serviços de esgoto, enquanto 35 milhões não têm acesso à água potável. É sempre muito oportuno discutir a universalização do saneamento básico, não só pelos benefícios evidentes para a saúde pública, mas também para promover desenvolvimento econômico, social e ambiental.
A falta de saneamento básico não é apenas um obstáculo para a qualidade de vida, mas também perpetua um ciclo de pobreza e desigualdade. Sem água limpa e instalações sanitárias adequadas, comunidades enfrentam riscos elevados de doenças transmitidas pela água e problemas de saúde decorrentes da falta de higiene.
De acordo com o ranking realizado pelo Instituto Trata Brasil, é profunda a diferença que separa as cidades brasileiras, quando o tema é saneamento básico: 16 dos 20 municípios com melhores condições estão no Sul e no Sudeste. São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, está no topo do ranking. Quase 100% da população dessas cidades tem água potável e coleta de esgoto, e o índice de tratamento é de 80%. Doze dos 20 piores estão no Norte e no Nordeste do país. São cidades onde a média de acesso à água é de 80%, a de coleta de esgoto é de menos de 30% e a de tratamento de 18%.
A realidade é desafiadora, por isso é fundamental ampliar os investimentos públicos e privados em saneamento, com prioridade para regiões carentes, promovendo políticas inclusivas e assegurando o acesso universal aos serviços básicos. Além dos investimentos necessários, a complexidade geográfica do Brasil impõe desafios adicionais, demandando uma combinação de soluções adaptadas a cada realidade. Em áreas de difícil acesso para as redes tradicionais, soluções eficientes de tratamento descentralizado de água e efluentes muitas vezes se mostram as mais apropriadas, por exemplo.
Em áreas de difícil acesso para as redes tradicionais, soluções eficientes de tratamento descentralizado de água e efluentes muitas vezes se mostram as mais apropriadas. Novas tecnologias, como as desenvolvidas na Estação de Tratamento de Esgoto Lipa, em Cuiabá (MT), inaugurada em 2022, são exemplares. Atendendo 70 mil pessoas em 35 bairros, a estação opera de forma totalmente automatizada, com baixa emissão de odores, método de purificação rigoroso e mecanismos de eficiência energética.
Soluções e tecnologias inovadoras promovem desenvolvimento sustentável, saúde pública e igualdade. Por isso, investir em infraestrutura de saneamento eleva as condições de vida das comunidades, contribui para a preservação ambiental, diminui a poluição dos rios e mares, gera desenvolvimento sustentável e impulsiona o crescimento econômico. A universalização do saneamento básico pode gerar mais de R$1,4 trilhão em benefícios econômicos para o país, segundo um estudo do Trata Brasil.
É crucial que governos, organizações da sociedade civil e o setor privado colaborem para garantir que todos tenham acesso a serviços seguros, acessíveis e sustentáveis. O saneamento básico é um desafio complexo que requer ações consistentes e a longo prazo. Superar essas deficiências não apenas garantirá qualidade de vida aos brasileiros, mas também impulsionará o desenvolvimento sustentável de nosso país.
Sobre o autor: Luis Filipe Fonseca é diretor executivo de negócios Brasil do Grupo Tigre.
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