O Sequestro da Independência

magem do quadro de Daniel Lannes “O Sequestro da Independência”, Daniel Lannes
“O Sequestro da Independência”, de Daniel Lannes, uma releitura do quadro “Independência ou morte”, 1888, de Pedro Américo (divulgação)

O Sete de Setembro tem sua narrativa ‘revista’ em Exposição na Galeria Arte132, em Moema Pássaros e livro lançado na abertura do evento, neste sábado, dia 13 de agosto

A História do Brasil, assim como as narrativas de diversos períodos históricos mundiais, é tema de reflexão de estudiosos, que muitas vezes apresentam novos olhares sobre os fatos. Uma das passagens mais icônicas de nossa história, o Sete de Setembro, é o tema central da exposição “O Sequestro da Independência”. Seus curadores, Lilia Schwarcz, Lúcia Klück Stumpf Carlos Lima Junior, são também autores do livro de mesmo nome, diretamente relacionado às obras expostas.

A tarde de abertura da exposição terá dois momentos bastante especiais. Primeiro, a partir do meio dia, o público terá o privilégio de compartilhar o olhar dos curadores, em uma visita guiada por pessoalmente por eles. Na sequencia, entre 13h e 15h, eles irão autografar seu livro “O Sequestro da Independência – Uma história da construção do mito do Sete de Setembro” (Companhia das Letras, 2022), no lançamento oficial da obra.

A exposição propõe a reflexão sobre nossa história e sobre como se formam diferentes memórias visuais, em cada contexto político. São destacados especialmente quatro períodos chave ligados à emancipação política do Brasil através de reproduções de obras muito conhecidas e também outras menos famosas. Estes marcos são o próprio processo de independência, em 1822; a comemoração de seu centenário, em 1922; a celebração dos 150 do evento, em 1972, pela ditadura militar e este ano de 2022.

Entre todas as telas, para os curadores, a do artista Pedro Américo, “Independência ou morte”, de 1888, tem um sentido especial para a construção da nacionalidade do povo brasileiro. De pintura encomendada para o futuro Museu do Ipiranga em 1886, apoiada por D. Pedro II, como homenagem de filho para pai, ela acabou se tornando (no imaginário) um retrato fiel do 7 de setembro. Uma cena às margens do Ipiranga, despida de seu significado original, autoria e contexto.

Por ter caráter educativo e revisionário da história do país, a intenção principal dos curadores e da galeria, ao idealizarem a exposição, é que ela percorra diferentes escolas pelos estados do Brasil. Levar à educação primária e secundária uma visão plural e mais verossímil sobre a Independência da República, datada de 7 de setembro de 1822. Um olhar muito diferente do que foi retratado no quadro de Pedro Américo e em outras obras encomendadas para ilustrar este período. Integraram os batalhões, durante os conflitos armados, mulheres, crianças, indígenas e negros escravizados: os verdadeiros “heróis da independência”. 

Exposição O Sequestro da Independência
Galeria Arte132
Av. Juriti, 132, Moema
De 13 de agosto a 24 de setembro
Segunda a sexta, das 14h às 19h. Sábados, das 11h às 17h 
Entrada Gratuita

Abertura 13 de agosto
Visita guiada com os curadores Lilia Schwarcz, Lúcia Klück Stumpf e Carlos Lima Junior, às 12h
Tarde de autógrafos: das 13h às 15h
Constatações abordados no livro O Sequestro da Independência – Uma história da construção do mito do Sete de Setembro 
  1. Os detalhes de uma tela – vale a pena “ler” uma pintura a partir do todo, mas também por meio de seus detalhes – todos igualmente significativos; 
  2. 1822: o fato da proclamação da independência ter acontecido primeiro no Rio de Janeiro, não em São Paulo, às margens do Ipiranga; 
  3. O artista Pedro Américo é europeu e nada conhecia das terras brasileiras, portanto, retratou, em seu quadro, uma “independência europeia”, sendo o protagonista d. Pedro e não os populares (localizados no canto esquerdo da tela), uma pintura em tudo desajustada; 
  4. 1922: a disputa do protagonismo entre o Museu Paulista (Museu do Ipiranga, SP) e o Museu Histórico Nacional (RJ) para retratar o período da independência, encomendando quadros que ilustrassem momentos e figuras históricas;
  5. 1972: a comemoração ativa dos 150 anos de emancipação política por parte do governo ditatorial militar, que usou isso como estratégia para desviar as atenções da violência que ocorria nas ruas do país;
  6. Outras independências pelo Brasil: estados do Norte e Nordeste brasileiro travaram inúmeros conflitos armados durante esse período. Por isso, passaram a encomendar pinturas que destacavam a atuação de seus líderes locais nas lutas durante as guerras de Independência, rompendo com essa visão sudestina, palaciana, europeia e masculina do processo de independência;
  7. E, por fim, outros ecos do Grito de Independência: a força e popularidade da tela de Pedro Américo no século XX e XXI foram tamanhas que ela virou uma espécie de imaginação nacional. Por isso, foi relida inúmeras vezes por propagandas, sátiras políticas e por artistas contemporâneos que igualmente trataram de “sequestrar significados”.

A Arte132 acredita que a arte de um país e de um período não é constituída apenas por alguns nomes definidos pelo mercado, mas por todos os artistas que desenvolveram um entendimento do mundo e do homem em determinado momento. A casa (concebida pelo arquiteto Fernando Malheiros de Miranda, em 1972), para além de uma galeria de arte, é um lugar de encontros, diálogos e descobertas. Conheça mais em https://arte132.com.br