Por Relly Amaral Ribeiro
Daniel Alves e BBB 23: atos da impunibilidade masculina
No dia 20 de janeiro, o jogador de futebol Daniel Alves, membro da seleção brasileira de futebol há anos, conhecido internacionalmente, é preso sob a acusação de agressão sexual à uma jovem espanhola – que teria ocorrido em uma boate em Barcelona, no final de 2022 – com fortes indícios de culpa. Dois dias depois, em 22 de janeiro, após reiteradas atitudes como: gritos, mandar calar a boca, ameaça de agressão em tom de “brincadeira” e toques bruscos na “namorada”, a atriz global, Bruna Griphao, o participante do BBB23, modelo Gabriel Tavares, é repreendido ao vivo pelo apresentador do reality show, Tadeu Schmidt, que expôs parte dos acontecimentos e pontuou: “em uma relação afetiva, certas coisas, não podem ser ditas nem de brincadeira”.
No que esses dois casos se assemelham? Estamos em 2023 e, como pessoa não tão jovem percebo – ainda bem – uma mudança muito brusca em termos de comportamento humano e social, nos últimos 20 anos. São quebras, quedas e reconstruções de paradigmas, eu diria, quase diárias. Estamos hoje, em uma sociedade que aceita e estimula diversas posturas, porém, essas mesmas posturas também são inadmissíveis para uma boa parcela da população.
E um ponto que há séculos não só é tolerado, mas até certo ponto estimulado, é a posse de corpos femininos. Tais corpos no imaginário masculino parecem não exigir permissão para que sejam tocados, controlados e julgados, desde antes da Santa Inquisição. Estamos, em pleno século XXI, e homens com posição de poder financeiro e midiático, conhecidos nacional e internacionalmente, despreocupados com relação àquilo que poderiam ser culpabilizados moral ou penalmente, se veem no direito de tocar, cercear e abusar de corpos femininos.
E sim, vou bater nessa tecla retinente: o privilégio é masculino, hétero, cristão e frequentemente branco. Assim como é também – já que dentro de uma sociedade capitalista – vinculado à fama, dinheiro e poder.
Parabenizo a equipe mexicana Pumas, pela atitude de ter demitido o jogador Daniel Alves por justa causa, porque qualquer trabalhador nessas condições sofreria o mesmo. Porém ver uma equipe de futebol, de um país com larga incidência de agressão sexual às mulheres, tomar essa atitude com alguém de tal gabarito, não é só emblemático, quanto emocionante. É importante também pontuar a atitude corajosa do apresentador Tadeu Schmidt em não “deixar quieto”, como aconteceu em tantas outras edições do BBB.
Deixo aqui suas palavras finais “Mas quem está de fora consegue enxergar quando os limites estão prestes a serem, gravemente, ultrapassados”. Em um país onde oito mulheres são agredidas por homens a cada 1 minuto – segundo pesquisa de 2021 realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Data Folha – esse alerta não só se faz importante no quesito moral, como salva vidas. E quantas vidas! Melhor que isso, somente a certeza de que os acusados não sairão impunes.
Que nossos corpos sejam respeitados, como cidadãs que somos: trabalhamos, pagamos nossos impostos, criamos nossos filhos, temos sonhos, carreiras, almas. Nossos corpos são nossos, assim como a culpa por invadi-los são dos agressores. Que cada um possa pagar por aquilo que fez e faz.
Sobre a autora: Relly Amaral Ribeiro é Mestre em Serviço Social e Política Social, Tutora e Professora dos cursos de pós-graduação em Serviço Social do Centro Universitário Internacional Uninter
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