Madre Maurina: revelações sobre a Ditadura Militar

imagem fictícia de madre maurina (atriz) entrando no portão do orfanato em Ribeirão Preto
cena do documentário (foto Renata Prado/divulgação)

Documentário exibe a história da freira que, mesmo sem ligação com grupos armados, foi presa e torturada pela Ditadura Militar no interior de São Paulo.

Quase quarenta anos depois do final da ditadura militar no Brasil, novos fatos acontecidos ao longo de cerca de 21 anos do regime continuam sendo revelados. A história de Madre Maurina, a única freira de que se tem registro até o momento que foi presa e torturada, é um destes. A prisão da religiosa foi noticiada à época, assim como a inclusão de seu nome em uma lista de presos políticos que seriam enviados para o exílio, mas pouco se propagou dessa notícia, até agora.

O documentário de longa-metragem Maurina, O Outono que Não Acabou resgata a história da freira, presa em Ribeirão Preto em 1969, acusada de apoiar guerrilheiros que lutavam contra o regime militar. O filme relata através de depoimentos de pessoas ligadas a ela e de historiadores e pesquisadores do período, como foi a sequencia de coincidências e desventuras que levou os comandantes da ditadura a concluírem que a madre era culpada.

Prisão e exílio forçado

Madre Maurina vem de uma família pobre e muito religiosa, tendo diversos parentes ligados à igreja. Foi diretora do Lar Santana em Ribeirão Preto-SP, um orfanato para meninas, que ficou aberto entre 1931 e 2014. Quando assumiu seu posto, autorizou a continuidade de reuniões de um grupo de civis católicos no local. Em outubro de 1969, o grupo em questão foi ligado às FALN (Forças Armadas de Libertação Nacional), considerada um grupo terrorista que deveria ser contido pelo governo militar.

Por ser a diretora do local, Madre Maurina foi presa e sofreu diversas torturas físicas e psicológicas. O filme revela diversos fatos que ocorreram nos três presídios em que passou: a cadeia pública de Cravinhos (SP) e as prisões de Tiradentes e Tremembé, ambas em São Paulo (SP) e, ainda, sua inclusão na lista de prisioneiros trocados pelo Cônsul-Geral do Japão, sequestrado por movimentos guerrilheiros em 1970. Mesmo sem conhecer nenhum dos outros presos trocados junto com ela, foi embarcada em um avião para um exílio no México.

Produção e resgate histórico

A historiadora Nainora Freitas, uma das entrevistadas no documentário, diz que é extremamente relevante discutir a ditadura militar a partir da história da Madre Maurina. “Quando nós olhamos para a história da ditadura militar, que é uma história relativamente recente no Brasil, vemos que ainda é uma história apagada. Nós temos muitas lacunas a serem desvendadas neste processo histórico. E falar de Madre Maurina é trazer um pedacinho dessa história ainda oculta”.

O diretor do filme, Gabriel Mendeleh, ressalta dois aspectos importantes do documentário: “A história da Madre Maurina é símbolo contra a ditadura militar, foi através dela que grandes nomes dessa luta, como Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo da capital paulista, começaram sua militância”. Ele acrescenta: “Quando a gente traz uma história dessas, mostra que a ditadura também chegou nas cidades de menor porte do interior”.

O filme é uma produção independente, começou a ser desenvolvido no pré-pandemia com pesquisa inicial do diretor e roteirista Gabriel Mendeleh, chegou a ser contemplado pelo Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo – PROAC em 2019. Após uma pausa forçada pelo período de quarentena, foi produzido pela Kauzare Filmes, de Ribeirão Preto, em 2020 e 2021. Maurina, o Outono que Não Acabou, foi apresentado em diversos festivais internacionais de cinema independente e foi premiado em Sevilha, na Espanha, e no Golden Eagle International Film Festival, na Índia.

Maurina – O Outono Que Não Acabou
Documentário sobre a (única) freira presa durante a ditadura militar.
De quinta a domingo, 11 a 14 de abril, às 18h
Cine LT3
Rua Apinajés 135a, Perdizes
Ingressos a R$12 (preço único)

Premiações e festivais

Espanha (2022/23). Festival Cinema Independente de Sevilha (SEVIFF). Prêmios: “Melhor documentário de longa-metragem”, “Melhor diretor de documentário de longa-metragem”, “Melhor diretor estreante de documentário de longa-metragem”.
Índia (2022/23). Golden Eagle International Film Festival. Prêmio: “Melhor Documentário de Longa-Metragem”.
Estados Unidos (2022/23). Docs Without Borders Film Festival. Prêmio: “Mérito Excepcional”, categoria Revolution and Reform.
Moldávia (2022/23). Serbest International Film Festival (SIFF). Semifinalista.
Portugal (2022/23). Lisboa Indie Film Festival (LISBIFF). Seleção.
França (2022/23). Red Movie Awards. Seleção.
Malta (2022/23). Your Way International Film Festival. Seleção.
Itália (2022/23). Naples Film Awards. Seleção

O filme foi produzido pela Kauzare Filmes, de Ribeirão Preto, e foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo – PROAC, em 2019. Tem o apoio do Governo do Estado de São Paulo, da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, do Governo Federal, do Ministério da Cultura e da Lei Paulo Gustavo.